segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Festa no Feijó

No dia vinte e nove de Janeiro de dois mil e onze, pelas dez horas, realizou-se no Feijó  uma reunião presidida por aniversariante e com a presença de mim, Ricky, Dori (antes conhecida como S.), Johnny, DJ, Chico Norris e outros  e com a seguinte ordem de trabalhos.

Vamos ouvir o silêncio.





















































































































































E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Swindon

Do dia seis de Janeiro ao dia dez de Janeiro de dois mil e onze, pelas horas todas que compreendem estes dias, realizou-se em Swindon uma reunião presidida por Andrea e com a presença de mim e do Zé e com a seguinte ordem de trabalhos.

  • ·         Ir a Swindon
  • ·         Ir a Oxford
  • ·         Ir a Avenbury
  • ·         Ir a Bristol
  • ·         Ir  a Bath
  • ·         Ir a Londres
  • ·         E uma Acta
Esta acta começa alguns meses antes, quando McSousa disse que ia visitar Andrea. Ignorei-a nessa altura porque não havia dinheiro, tinha de fazer cosplay e não havia dinheiro, mas depois ocorreu-me que talvez fosse boa ideia ir, porque tinha saudades da Andrea. Então marquei a viagem para ir e mandei uma mensagem a dizer que ia. Ao que me foi respondido que era melhor não e eu chorei. Mas depois veio-se a saber que a resposta havia sido devida a um furão ter explodido nas mãos da pessoa em causa e ficou tudo bem. De qualquer forma, mudei a minha viagem, após ter pago uma pesarosa caução, e ficou para dia seis a dia dez de Janeiro, entre o mini-teste de Zootecnia e a frequência de Clínica de Animais de Companhia e Equinos, doravante conhecida por CACE ou O Demónio. Entretanto, para grande surpresa de todos, Zé envia uma mensagem perguntando quando é que eu vou, porque ele também vai, e lá vamos nós.

Encontramo-nos no aeroporto, logo depois de eu ter comido um pão-de-leite com queijo que tinha comprado na faculdade (tinha comprado dois e comido ambos pelo caminho, porque nos aviões da Easyjet e de todas as outras companhias de baixo-custo não nos dão de comer) e despachamos a mala do Zé, que preferiu pagar o extra. Eu levo apenas a mala da minha mãe, com uma camisola de lã e cuecas. O espaço dentro desta mala será discutido depois.

Zé nunca tinha andado de avião, por isso recomendei-lhe pastilhas elásticas por causa da variação de pressão. Entre ir ver o McDonalds do aeroporto, o Harrods do aeroporto e a gaiola de fumadores do aeroporto, esquecemo-nos e, na descida, ficaram-lhe a zunir os ouvidos. Foi um pequeno momento de pânico, este voo, porque o avião se atrasou por causa de uns idiotas quaisquer e tínhamos medo de perder o autocarro Londres-Swindon que nos iria levar até à Andrea! Felizmente conseguimos apanhar o autocarro, até tive tempo de fumar um cigarro numa área interdita a fumadores e de perguntar a uma série de pessoas qual era o nosso autocarro, e lá fomos, os dois no autocarro sozinhos, depois de o velhote condutor nos obrigar a por cintos, sempre pela direita porque é assim que se conduz em Inglaterra. O autocarro tinha luzes azuis, parecia as limusines das festas americanas que têm um bar e um jacuzzi lá dentro. Entretanto o velhote condutor ligou uma televisão e pensámos que fossemos ver um filme! Mas não! Era uma câmara apontada para nós, que nos filmava e nos mostrava na televisão. O Zé fez um filme. Faça-se notar que o Zé é o nosso repórter, e tem uma máquina cheia de objectivas super potentes e poderosas que, como as lágrimas do Chuck Norris, matam dinossauros e curam o cancro. Enfim, ele tira fotos. As fotos destas actas são e serão, na maior parte das vezes, tiradas por ele. O autocarro era da National Express, como a música dos Divine Comedy.

Chegamos a Swindon, apanhamos um táxi (que não conduzia de forma tão segura como o velhote condutor do National Express) e chegámos à Andrea, que nos recebeu de pijama. O senhor do táxi ficou a olhar para nós à medida que ela nos recebia, talvez para tomar conta de nós, talvez para nos vigiar.

No dia seguinte, Andrea foi castrar coelhos e nós fomos à procura do centro de Swindon. Após questionarmos um professor que ia com um grupo de crianças fardadas num jogo de pistas, viemos parar àquilo que é chamado de Magic Roundabout, a Rotunda Mágica. Esta rotunda mágica consiste numa rotunda grande rodeada de cinco rotundas pequeninas. Nas rotundas pequeninas conduz-se à moda inglesa, mas na grande conduz-se de forma invertida, como no resto do mundo civilizado. Reparei que, apesar das indicações, a maior parte dos condutores passa por cima das rotundas pequeninas, que estão apenas pintadas no chão.




Ao descobrirmos o centro de Swindon, depois de perguntar a outras cinquenta pessoas onde ficava a estação dos Buses e dos Trains, concluímos que só existem lojas. Estivemos no mercado coberto de Swindon, que tem as lojas alternativas – a loja de tatuagens, a loja de discos, a loja de t-shirts e a smartshop -, estivemos num centro comercial criado no século XIX por um senhor chamado Brunel, passámos por várias lojas de máscaras e numa loja que equivale à Ale-Hop, mas gigante… E pela parte velha, que se compõe de algo como uma igreja e outro algo que também é como uma igreja. Gostaria de ter ido às compras e de ter comprado tudo quanto existia, mas estava com o Zé e não o quis forçar a ir ver roupa de senhora. Encontrámos uma bandeira Portuguesa, que afinal era da Igreja Universal do Reino de Deus. A IURD está em Swindon e nela podes, tu também!, rezar em Português! Porque rezar em Inglês é complicado. Depois ainda se admiram que não haja integração dos Portugueses residentes no estrangeiro. Entretanto ao voltar para trás perdemo-nos de novo, por isso perguntámos a uma senhora onde era a Magic Roundabout, o nosso ponto fixo de orientação. A senhora disse que não sabia, mas para perguntarmos a outros senhor que ia a passar. Como eu já tinha perguntado, desta vez foi o Zé. Mal ele se aproximou, o homem gritou FUCK OFF e nós fugimos. A senhora olhou para nós e disse que o homem era maluco. Suponho que estivesse num mau dia. Afinal o fuck off dele foi mais um “awww fuck offf” e não um “UUURGGGHHH FUCK OFF VOU-VOS MATAR”.

Depois Andrea descobriu que não tinha mais coelhos para castrar e fomos a Oxford. Antes de irmos almoçámos em casa da Andrea, que é amorosa, tem dois andares e um jardim com um lago e raposas, e vimos um tour dos Radiohead que indicava, em Oxford, os locais onde os Radiohead apareciam de vez em quando (como a Nossa Senhora de Fátima, que aparece em cima de Azinheiras, mas os Radiohead aparecem em lojas de guitarras), os locais onde inventaram músicas e os locais onde fizeram festas a macacos. Oxford é uma cidade interessante, um bocado escura, mas antiga e toda mais ou menos perfeita. Imensos restaurantes. Poucos ou nenhuns estudantes. Muitas bicicletas. Muitas universidades. Especialmente a de teologia, que estava dividida em diversos edifícios por toda a parte. Já diziam que Deus está em toda a parte, e a realidade é que está mesmo. Vimos outra representação Portuguesa, o Nando’s, um restaurante que só serve frango assado. Entretanto procurámos pelo café Beat. O café Beat, ou Beat Café, foi onde os Radiohead inventaram a música Creep. Andámos por Oxford inteira, perguntando de vez em quando onde era. Os dados eram confusos. Havia quem nos dissesse que era em Jerico, uma parte da cidade (Deus está em toda a parte!), havia quem nos dissesse que era já naquela esquina, havia quem nos dissesse que não existia, duas polícias mandaram-nos ir ter a uma praça, acabámos por ir parar aos confins de Jericó e desistir da busca numa tal de Little Candace Street – ou algo do género. Perguntámos a uma rapariga por um café fofo onde pudéssemos descansar. Ela indicou o Starbucks. Contemplámos ir a uma loja de gelados, contemplámos ir a montes de sítios, até que finalmente encontrámos uma rua. Essa rua, tinha nomes de bandas por ela afora. Lojas com nomes de bandas. Oasis era uma delas. Seguimos por essa rua e começou a chover. Já se fartara de chover e Zé já tinha encontrado um guarda-chuva perdido na rua, mas estávamos a ficar ainda mais molhados e com mais frio, por isso abrigámo-nos num sítio que parecia interessante. Era o Museu de Arte Contemporânea. Comprei um livro para pintar para a minha irmã pequena e perguntamos onde é o Beat Café, só para confirmar que ele não existe. A senhora da caixa diz, sem hesitar… Little Candace Street. Ao bebermos o nosso café de duas libras, comendo uma fatia de bolo de cenoura, compreendemos finalmente o significado da música Creep. E assim foi a viagem à terra do Boi Ford.


Nessa noite conhecemos alguns colegas de casa da Andrea, porque os outros estavam ausentes noutros países. Conhecemos a Eslovaca, ou Eslovena, não cheguei a compreender bem (eu sei que são dois países diferentes, apenas têm nomes demasiado parecidos) que é loira e simpática e tinha passado a tarde a conduzir. Vamos chamá-la de Bambulka, e já vamos explicar porquê. Conhecemos o Italiano Papi e os seus amigos, a Papa e e o Papipapa que não sabia uma gota de Inglês. Conhecemos a Espanhola Espanholita e uma Portuguesa que será a Miúda-dos-Cuidados-Intensivos, porque durante a nossa estadia ela esteve sempre a fazer noites em cuidados intensivos. E, finalmente, o Bambulko, o Eslovaco/Esloveno que gostava de guitarras. Ah, e o Prototeca, que era um grego que aparecia no andar de baixo de vez em quando de calções e t-shirt (note-se que estava frio. Muito frio.) e falava de medicina interna. E fumava que nem uma chaminé. Esse jantar foi algo de estranho, porque provámos vinho do Porto que a Andrea tinha e comemos pizza que a Andrea comprou para todos porque não havia paciência para fazer o jantar. Mas em vez de ser aquele ambiente Erasmus que eu já conhecia, da loucura total, era a não-loucura. Por momentos pensei que estivesse numa aula de revisões de CACE e isso deixou-me triste, não só por mim mas também pela Andrea, que provavelmente estaria muito melhor a discutir outro assunto qualquer. Entretanto o Bambulko apoderou-se do computador onde tínhamos estado a ver a tour dos Radiohead e mostrou-nos o que conhecia de música Portuguesa: o Saul. Por isso mostramos-lhe a música do Bicho Vou-te Devorar, vimos umas fotos de guitarras Portuguesas, ouvimos o Carlos Paredes, a Espanholita mostrou-nos um outro Carlos Espanhol que também tocava guitarra e finalmente o Bambulko decidiu mostrar-nos o equivalente da Rua Sésamo nos Países do Leste. A Bambulka. A Bambulka é a história de um velhote que encontrou uma menina dentro de uma mala (Bambulka. Aí está a razão do nome!) e que agora toma conta dela. E tem um cão. Neste episódio a Bambulka estava toda emporcalhada, por isso o velhote agarrou nela, despiu-a e deu-lhe banho. Olhámos horrorizados para isto, porque a nós não nos passa pela cabeça que ainda há bem pouco tempo era legal ver rabos de crianças na televisão.

No dia seguinte fomos todos, excepto o Bambulko e o Prototeca, a Avenbury. Avenbury é uma terra que tem uns pedregulhos à volta, a fazer um círculo, uma espécie de Stonehedge mas sem tecto. Estivemos numa linda igreja, que aceitava aprendizes de tocador de sino, rodeada de um lindo cemitério que me perturbou grandemente. Para entrar no jardim, que era o cemitério, passava-se por baixo de uma casinha. Dizia lá que era um presente à igreja em homenagem da Senhora Não-sei-quem pela parte do Senhor Não-sei-quem. Quase que chorei com a fofa história dos senhores Não-sei-quem. Durante todo esse tempo pensei que viesse a ter uma revelação pagã, mas nada. Aliás, no caminho até tínhamos visto um dos White Horses, mas ele não me disse nada. Os pedregulhos também nada me disseram. Entretanto apareceu o sol, e tirámos fotografias ao sol, porque é extraordinário quando ele aparece em Inglaterra. Depois fomos a um pub tipo taberna e comemos Fish and Chips com Cidra. Não gostei nada da Cidra, champomy. Também estivemos numa loja de lembranças que tinha coisas com passarinhos, mas não comprei nada porque não tinha onde levar e não queria incomodar ninguém. Também tinha livros sobre o Paganismo, mas nenhum me interessou muito. A Andrea chamou-lhes “livros sobre a tua cena”. Gosto que o Paganismo seja a minha Cena, apesar de eu hoje em dia já não seja muito Pagã. Por isso fiquei mesmo triste por as pedras não me terem dito nada, nem ter tido nenhuma revelação. Afinal, as pessoas Pagãs têm revelações em sítios destes. E a mim não aconteceu nada. Desde que vi Deus na terra que nem sequer rezo antes de dormir todos os dias, e isso começa a perturbar-me. Mas não consigo, parece que a minha fé já não é tão grande como era antes. Ou se calhar ainda é, mas agora já estou tão habituada que não é novidade. Por isso tinha esperança que as pedras dissessem alguma coisa. Mas foram umas malcriadas, nem bom dia nem boa tarde.


Depois fomos a casa do Bambulko e vimos o Querida Encolhi os Miúdos 2, que é o Querida Ampliei o Miúdo. A Miúda-dos-Cuidados-Intensivos chegou e viu o filme connosco. E depois fomos para Bristol, no carro do Bambulko que, como veio da terra dele, tem o volante no sítio certo. Consequentemente parecia que estávamos sempre em contra-mão. Dormi grande parte da viagem, até que estacionámos num parque de estacionamento. Isto está bem concebido, há parques de estacionamento por toda a parte. Em Swindon também! Fomos a um bar dentro de um barco, chamado Apple. Entretanto no Tesco, que está aberto 24 horas por dia todos os dias excepto ao Domingo, eu tinha comprado tabaco de enrolar acidentalmente, por isso tentei enrolar cigarros. A Andrea tem uma máquina, mas os filtros ingleses são demasiado pequenos e, por isso, não funciona bem. A Andrea projectou que iria comprar um cacilheiro e fazer um bar dentro do cacilheiro. Depois compraria o Ferry e faria o Cacilheiro 2, que era para as festas de Verão. Bebi cidra quente, muitíssimo mais agradável do que a da hora de almoço. Entretanto encontramos os Papis e a Espanholita. Andámos por Bristol à procura de um pub chamado Canteen e, entretanto, descobrimos que deviam também ter feito uma tour Banksy, como tinham feito para os Radiohead. O Banksy estava por todo o lado. Até no Canteen. Este estava cheio, por isso entrámos na porta do lado. Revelou-se um restaurante indiano, onde comemos lindamente. Eu comi uma papa verde, meio picante, soube-me bem. O senhor indiano malaio do sítio veio falar connosco e estava mesmo feliz por estarmos ali. O sítio começou a ser invadido por freaks, ia haver uma festa, mas pediram-nos quatro libras para ficar, e não o desejámos.  Mas ao sair para o Canteen reparámos que se havia formado uma fila enorme. O Bambulko não quis ficar na fila, por isso eu e a Andrea fomos com ele. O Zé ficou, porque tinha um amigo em Bristol que eventualmente o levaria nesse dia até Londres. Nós estávamos destinados a ir no dia seguinte ao seguinte, noutro National Express. Andando até ao carro, descobrimos um bar interessante, mas continuámos até ao transporte. Depois voltámos para trás, eu vi o stencil da Branca de Neve a fumar crack, e fomos para o bar interessante. Lá ficámos um bocado, bebemos uma cerveja, e depois tive de explicar ao Bambulko o que me acontece quando ficou muito tempo sob música. A música começa a soar-me toda ao mesmo, uma linha harmónica pavorosa e infernal que não me sai da cabeça, qualquer que seja a música. Ele olhou para mim como se eu fosse maluca, o que é bem possível que seja verdade, e perguntou se eu não gostava de ir a discotekes. Eu disse que não me importava, desde que fosse com o objectivo de ir dançar. Mas estar assim num bar sem me poder ouvir faz-me mal, espero que ele tenha compreendido isso e não tenha ficado muito estranhado com o assunto.


Nosso último dia com a Andrea, fomos a uma terra chamada Banho. Banho, ou Bath, é uma linda terra que tem termas. E é toda linda e perfeita, com lindos jardins. Aparentemente a Jane Austen vinha aqui tomar banho. Não levei os meus tapa-orelhas por isso sofri, enquanto os meus tímpanos se enchiam de sangue e rebentavam. De qualquer forma, Bath é uma linda cidade e fingimos que éramos ladies Inglesas que iam ver o seu Richard a jogar cricket. Comemos hambúrgueres ao almoço e constatámos uma realidade Inglesa: nos restaurantes faz-se o pedido e paga-se logo. Eles vêm trazer e podemos morrer ali que eles nunca mais aparecem. Estranho. Também estivemos numa loja de coisas geeks, com manga e anime para mim, e t-shirts do Totoro, mas era uma loja estranha porque além das coisas geeks também tinha coisas skaters. Aparentemente em Inglaterra o nerd de anime também é skater, e isso são coisas completamente dissociadas na nossa terra. Nunca num evento de anime há-de aparecer um skater, e nunca um skater há-de gostar de anime, tanto que a moda do skate nunca pegou dado o preço excessivo do tal acessório e falta de local onde praticar a brincadeira. Aliás, se aparecer alguém fora do eixo num evento de anime, digamos que vestido com outra cor que não seja o preto ou sem orelhas de gato, essa pessoa será imediatamente crucificada e assassinada pelos nerds em fúria, auto-denominados de otaku mas que de otaku nada têm. Também fomos à compras em Bath, mas não comprámos nada por ser tudo demasiado caro.


Finalmente, último dia. Acordamos às quatro da manhã, comemos leite e cereais, Andrea vem despedir-se de pijama, exactamente da mesma maneira como nos recebeu, e andamos sobre o gelo até à estação dos Buses. Dormimos no National Express, desta vez ia um pouco mais cheio, e vimos Londres. Tudo está em obras. Vimos Picadilly Circus, o Parlamento e o Big Ben, a Roda Gigante, os teatros, Covent Garden (finalmente pude fazer compras!) e Westminster. Depois fomos apanhar o comboio para o aeroporto, comemos no McDonalds (nunca se pode ir ao estrangeiro sem se ir comer no McDonalds! É obrigatório!), descobrimos que tinha de se pagar cinte pénis para entrar numa casa de banho pública, bastante limpa por acaso, comprámos dvds na HMV e brincámos nos Ipads na loja da Apple. Tentei decorar as minhas falas da peça. Esperámos. Entrámos no avião. Voltámos.


Fui a correr ter com a minha mãe que me esperava, porque já estava atrasada para o meu ensaio de teatro, mal me despedi do Zé. Antes ainda tive tempo de devolver um estojo das fadas da Disney que tinha encontrado no avião ao seu respectivo dono, espero que ele não o tenha perdido outra vez e o tenha oferecido à pequena menina que gosta das fadas. Estava um trânsito infernal e colossal, demorámos 40 minutos a chegar ao teatro, mas chegámos. Ainda consegui comer uma sandes de queijo antes de entrar. 

As sandes de queijo fazem, definitivamente, parte da minha vida. 

Andrea volta depois de amanhã. Tudo está bem quando acaba bem.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.





quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ano Novo



Aos alguns dias do mês de Dezembro e outros de Janeiro de dois mil e onze, pelas poucas horas da noite e alguns minutos, realizou-se no Silveirinho uma reunião presidida por R. e com a presença de bué pessoal e com a seguinte ordem de trabalhos.

Uma acta.

Venho por este meio formular aquilo que foi postulado por todos nós, que é uma acta das actividades intensas que decorreram, e decorrerão, ao longo do ano novo e ao longo do novo ano. Passa a apresentar-se a excretora deste texto e de outros vindouros. Para manutenção do anonimato, meu e de todos, irei referir-me a nomes que talvez sejam conhecidos pelos seus detentores mas não pelos seus colegas de trabalho e chefes de departamento. Quanto ao meu anonimato, chamam-me Carol ou Carolândia, o que faz meu nome real fácil de adivinhar, mas em todo o caso eu prefiro o meu epíteto que há largos anos dura e pelo qual sou conhecida em diversos universos, paralelos ou perpendiculares. Esse nome é Lady. Olá a todos.

Tudo começou ainda antes de começar. O drama rolou e tornou-se irrelevante, por isso não falemos dele.
Depois foi o dia da ida, em grande excitação. Johnny apanhou-me em frente da estação dos comboios de Sete Rios, depois de eu ter esperado um bom quarto de hora ao lado de um cigano mal-cheiroso. Vi um antigo colega meu do teatro (e da primária também, dá para ser as duas coisas) a apanhar uma miúda mais baixa do que ele, mas não me apeteceu falar-lhe. Entretanto acabou a bateria do meu mp3 e a boleia chegou.  No carro já vinham, além de seu condutor, Ricky, S. e DJ. Avançamos brandamente até Aveiras. Aveiras é uma terra interessante, pois nada mais tem além de uma estação de serviço. À sua volta, apenas o vazio. Constatei esse facto quando chegámos lá. Esperámos circa uma hora por mais gente e falámos de um filme pavoroso que será referido mais tarde. Chegando toda a gente, R. apresenta-nos o seu novo Ipad, onde eu obrigo toda a gente a ouvir a música do PUDDI PUDDI, que é um pudim gigante para toda a família. Ah sim, talvez deva fazer notar que neste grupo de pessoas somos todos uns irresponsáveis, por isso sempre que há esperas há fumo. Isto explicará o consequente do resto da viagem.

Ao avançarmos reparamos que há imensos arco-íris. Primeiro vimos um, o que é normal. Depois vimos outro, mais extraordinário. E depois outro. E depois outro a reproduzir-se por gemulação. Constatámos portanto que estávamos debaixo do arco-íris e cantámos. Depois vimos um arco-íris ao contrário e saímos de debaixo dele.

Chegando a Coimbra fomos às compras. Ninguém seguindo os conselhos sábios fez uma lista, por isso entrámos à desvairada pelo Forum Coimbra afora, não sei se Continente se Feira Nova ou mesmo Pingo Doce crescido, e começamos a por cervejas dentro do carrinho. Eu, Ricky e S. decidimos procurar local para fumar, o que encontramos depois de uma grande volta. Assisto a homens Chineses a falarem em Chinês. Se fossem Japoneses teria compreendido, mas a Ásia é um continente de muitas nações. Voltamos ao supermercado e localizamos os nossos companheiros. O carrinho que antes tinha cerveja, agora tem cerveja, vodka, whisky, Gazela e batatas fritas. Bacano. Ocorrem certos atritos momentâneos e vamos embora.
Como vamos algo adiantados, decidimos parar antes na casa do Primo da Celeste, que nos recebe e tem um cão fofo. Cumprimentamos família, o que foi de certa forma estranho, e esperamos por Celeste, que se apresenta carregada de sapateiras. Oferecemo-nos para transportar alimento para casa, pois ela havia decidido congratular-nos com um enorme jantar. Infelizmente era arroz de pato, e eu não como pato, porque os patos são fofinhos e eu não como coisas fofinhas. Antes que seja questionado, os vitelos não são fofinhos, cheiram mal. Conheço muitos.

Instalamo-nos, fico com o quarto que antes me havia sido atribuído, em tempos quando eu era amiga da Diana. Que nostálgico. O quarto tem uma fotografia algo sinistra dos dois gémeos, diferentes mas ainda assim bastante iguais, sorte que agora são completamente distintos ou seria um enorme atrofio cerebral.

Algo se passou entre este momento e o outro, e creio que envolveu comer torradinhas com sapateira, atum, delícias e/ou azeitonas. Estava bom. Talvez tenha sido por esta altura que Johnny foi fazer a sua química (um verdadeiro alquimista, este homem) e a tenha trazido para baixo. Consumimos a Alquimia. Antes disto Ricky já tinha explorado Narnia, tendo encontrado um armário e outro armário (onde passou todas as noites em contemplação), guardando avidamente as chaves do primeiro armário para que mais ninguém entrasse em Narnia. Ser o guardião de Narnia é deveras trabalhoso.

Entretanto veio-se a saber que não éramos nós os únicos consumidores de moderadas doses de matéria ilegal, o que nos deixou a todos um pouco mais felizes ainda. Talvez tenha sido por aqui o primeiro passeio, mas não tenho a certeza.

Sabe-se que entretanto bateu a meia-noite. Fomos para dentro, excepto Ricky, onde nos abraçámos em celebração, abrimos champanhe e ficámos a compreender a potência da felicidade, à medida que soavam os Queen e gritávamos, gritávamos, gritávamos tanto, mas era apenas alegria, apenas felicidade.

Há mesmo quem tenha visto Johny e T. abraçando-se, mas terá porventura sido ilusão de óptica, alucinação ou efeito da droga, pois isso é, certamente, impossível. As coisas impossíveis raramente acontecem.

Ricky manteve-se ausente deste momento de felicidade, pois sentia a felicidade de toda a gente, ao mesmo tempo, dentro de si e, assim sendo, escusava de se levantar para partilhar. Há estes momentos, em que a partilha é tão profunda que chega a abraçar quem não está nela

Depois fizemos passeios. Não recordo exactamente a ordem deles. Sei que Ricky não compareceu no último, pois estava dentro do seu armário, e sei que os seguintes items se passaram durante os tais passeios:

  • Vimos o hospital dos zombies, edifício assustador entre a igreja e outra casa, de feições abandonadas e paredes gastas. As cortinas nas janelas abanavam às vezes e quase que podíamos ver a mão gangrenosa a abri-las e as órbitas sem olhos a mirar-nos por trás delas. Eu própria cheguei a visualizar o Leon a correr à frente dos zombies da casa, quiçá olhando pela janela também com os seus zombies, como os velhos à janela. Continua tudo igual desde que morreste? Continua, talvez cheire pior.
  • Ricky e S. decidem ir falar a um senhor que estava a estacionar o carro em frente da casa-toda-iluminada. Apesar dos meus esforços, compostos por gritos e ameaças, não os consegui demover. No entanto, por estranho que pareça, o senhor da casa-toda-iluminada não lhes bateu com uma pá nem chamou a polícia. Em vez disso, deu dois beijinhos a cada um e disse “então estão por cá?” Celeste confirmou depois disso que o senhor não os conhecia de parte alguma. Deveria ser efeito da aguardente conimbriquense, que é uma maluca.
  • Ricky decide perguntar no café mais próximo a que horas abre a igreja. Diz que é às três para a missa do ano novo, mas que querendo lhe vão buscar a chave para tirarmos fotografias lá dentro. Eu por mim penso que fotografias poderemos tirar dentro de uma igreja que é meio quadrada (à frente) e meio redonda (atrás). Os zombies do hospital olhavam para nós.
  • Andamos por baixo do IC3
  • Andamos apenas
  • Tentamos tirar uma fotografia de grupo. S. recusa-se, fazendo grandes dilemas sobre a explicação. Percebemos que tem uma relação estranha com as amigas, por isso ainda bem que ela não está com as amigas e está connosco. Ao contrário das amigas nós só tiramos fotos de grupo para se saber que somos muitos e onde estamos, por isso não faz mal tirar. Muitas delas nem sequer vão parar à internet, é apenas para recordar com a caixinha mágica dos vídeos do Johnny.
  • Começam a doer-me os quadricipes femorais.
  • DJ tem um ataque de indisposição e liberta a sua indisposição sob forma líquida. Não olhei com muita atenção, mas parece ter sido um acto de libertação absolutamente necessário, natural e encantador. Nada fazia mal e tudo era encantador.
  • Passamos várias vezes pela casa-toda-iluminada
 Entre dois destes passeios, creio que entre o segundo e o terceiro, ocorreram revelações, que passarei a revelar. No entanto antes de as revelar tenho de explicar o estado em que me encontrava. Era um estado de aceleração virtual em que tudo, absolutamente tudo, era encantador, maravilhoso e inexplicavelmente amigo. Por vezes falava, falava de tudo, mas quando parava de falar era como se todo o conhecimento do mundo estivesse em mim, tão rapidamente que era impossível explicar. Como se abrisse uma porta, como a abrem os alquimistas quando cometem esse tabu que é tentar ressuscitar uma pessoa que, evidentemente, já morreu, seja mãe morta em epidemia ou filho abortado por doença materna, e por trás dessa porta estivesse o conhecimento do mundo, em janelas, em molduras, em pequenos episódios, que corriam todos à minha frente, ou seria eu que corria em frente deles, e todos juntos faziam todo o sentido, um sentido universal, um sentido que era apenas isso. Um sentido que muitas pessoas resumem como 42, mas que eu entretanto não posso explicar porque, entretanto, já me esqueci. Enfim, ocorreram revelações.

Assim, revelei a DJ que o meu talento pagão é encontrar o lado mau das pessoas, e que o lado mau dele é ser um chato. Ele por sua vez revelou-me que só é chato com as pessoas de quem gosta, o que é claramente positivo, porque isso significa que gosta de mim. Revelei a Andrea (que tinha chegado de Tomar, mais tarde, com o Wolverine) o que ela já sabia, que gosto muito dela e que a admiro profundamente, e ela quase que chorou e me bateu revelando que odiava a admiração que tinham por ela, e assim eu prometi que passaria a não exigir tanto dela. Mas continuará num pedestal até que me apeteça, porque as pessoas loiras ficam bem em pedestais. E mais revelações ocorreram, mas estas foram as mais importantes. Há mesmo quem tenha telefonado à família. Devia tê-lo feito também, mas seria completamente contra a minha natureza. À uma e quarenta e sete da manhã lembro-me que tenho de mandar uma mensagem à minha mãe, já tinha recebido uma dela à meia-noite e três, há mesmo quem não tenha mais nada com que se preocupar. Felizmente não me esqueci de tomar as minhas Meds, que impedem que me caia o cabelo e que tenha ataques de raiva violentos dirigidos a pessoas ou objectos, ajudando também a estabilizar a minha paranóia. É extraordinário como em toda esta noite nunca senti nenhum momento de paranóia, eu que sou extremamente paranóica. Estava em paz com o Universo e, mais importante que isso, o Universo estava em paz comigo. Quando o mundo nos ama de volta, não há melhor sensação que essa.

Durante todo este tempo, R. manteve-se no mais profundo silencio, tendo Ricky se convencido que uma esfregona rectangular era o ceptro de Narnia e que, detentor do ceptro, ele era o guardião de Narnia. O Peru veio estranho da sua viagem à terra do gelo, e demonstrou-se muito chato em relação a nós em diversas ocasiões. Foi difícil de o convencer a ir-se embora, e de o convencer que a sua buba de whisky não estava a acompanhar a nossa moca de água. No entanto, Chico Norris teve a soberba capacidade de nos acompanhar a noite toda, apenas movido a etanol.

Faça-se notar que algures durante este tempo Johnny voltou a aparecer, desta vez com uma panaceia líquida, qual Fleming ou Elric que, mais que médicos, médicos o eram da alma daqueles que imaginam em demasia.

Entretanto eram sete da manhã, doíam-me os quadricipes e os tricipes femorais e sentia algo no meu cabelo, uma espécie de substância plástica, como o plástico arrancado do maço de tabaco que por vezes voa e se cola aos dedos, à cara, aos cabelos e ao que mais vier a jeito. Decidi ir dormir, na esperança que o plástico se soltasse e caísse.

Dormi como um anjo, completamente apagada, e acordei ainda acelerada às nove da manhã. A música da sala ainda soava, por isso esperei que a festa ainda estivesse a decorrer. Mas nada, tudo vazio. Apenas o Primo da Celeste a arrumar coisas e T. enroscado no sofá, abandonado mas ainda assim ronronando. Também lhe havia revelado que ele é um fofo, diga-se de passagem. Na realidade, invadi o quarto dele com Ricky para nos sentarmos nas cadeiras de praia que lá estavam na escuridão, e por isso falei com ele. As pessoas podem não gostar dele de vez em quando, mas eu acho que tem muito mais dentro de si do que aquilo que passa através dos outros. Pelo menos gostei de falar com ele nessa ocasião e senti que agora o conheço melhor. Pelo menos melhor do que conhecia. Enfim, enrosquei-me no outro sofá depois de tomar banho e comer um pão, e lá fiquei, num estado acordado mas adormecido – tal como havia acontecido da outra vez que tinha estado nesta casa, mas desta vez muito mais lógico e com todo o sentido. Entretanto o plástico do meu cabelo não saíra. Após investigação criteriosa venho a descobrir que são dosi fios de cabelo que estão dentro do meu ouvido.

As pessoas vão acordando pela tarde afora, e ainda estamos todos um pouco sob os efeitos da noite passada. Sem ressaca, sem nada, todos felizes, sujos e contentes, bebemos mais e fez-se uma descoberta, uma descoberta que veio a dar a criação destas actas. Descobriu-se, por associação de ideias, que eu sou uma Amiga Imaginária.

Primeiramente estávamos a falar dos nossos amigos imaginários, embora nunca tenhamos chegado a falar de como é que eles desapareceram, e eu confessei que não tinha tido um amigo imaginário, mas sim muitos. Na realidade, uma série de universos paralelos de amigos imaginários. Ao que eu me questionei se, na verdade, seria eu que era amiga imaginária de todos esses amigos imaginários. Foi quando os meus amigos me revelaram que eu era a amiga imaginária deles.

E aí tudo fez sentido.

Sobretudo o facto de eu necessitar de imensa atenção para não me passar da caixa dos pirolitos, coisa que acontece frequentemente quando bebo, fumo, como, tacteio, cheiro ou ouço. Quando deixam de pensar em mim, eu começo a desaparecer.

E assim ficou combinado que a Amiga Imaginária passaria a escrever as actas das saídas, para que em cada Ano Novo as levássemos escritas, para inspirar e para fazermos cada vez melhor todos os anos. Mas eu sou uma pessoa do futuro, por isso coloco-as desde já num blog, para que todos os que lá estiveram se lembrem sempre do que é que se passou e para quem não lá esteve se questione sobre o que é que se passou.

Depois fomos para cima ver O Rei Leão. Descobrimos que DJ sabe as falas todas do filme e que Peru é o Scar, enquanto Chico Norris se tripava em absoluto e eu chorava enquanto Mufasa morria e Simba e Nala se encontravam debaixo da cascata (ele é o bad boy, como elas gostam) e, por alguma razão, parece que passámos à frente a parte em que o Timon veste uma saia e dança o Hula!, porque não me lembro de ver isso apesar de querer imenso cantar isso. Depois Celeste entrou no quarto e disse que se vinha deitar, por isso fomos dormir também.

No dia seguinte, ou talvez tenha sido neste dia, vimos filmes pavorosos na caixa mágica do Johnny, com gatinhos a cair, pessoas a cair, bocas pornográficas, homens a beber suor de outros homens e pinheiros a cair também.

Depois fomos embora e eu dormi.

No dia seguinte tive aula, também dormi.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.


P.S. Pois me havia esquecido. Para este novo ano desejo muitas felicidades e muitos anos de vida, talvez mudanças radicais. Talvez até perca as minhas orelhas, mas isso é outra história.