sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Casa de Fados


No dia dezoito de Fevereiro de dois mil e onze, pelas dez horas, realizou-se em Alfama uma reunião presidida por Andrea e com a presença de mim, do Peru e de algum pessoal de Swindon  e com a seguinte ordem de trabalhos.

                Uma noite de fados e uma acta.

                Anteriormente tinha estado em casa de Andreia com a Princesa Fifi, a beber chá, comer bolo de chocolate e a ver a Annie Hall. Chegámos à conclusão que o Woody Allen é horrível, porque é – simples e puramente – das pessoas mais irritantes que há à face da Terra. Além disso é feio e peludo mas as mulheres com quem ele fica nos filmes são sempre bonitas. Algo completamente anormal.

                Depois fui a casa e à noite, como McSousa não respondia aos requerimentos, tomei um táxi para ir para a casa de fados em Alfama onde Andrea iria jantar com o pessoal de Swindon e com os amigos da Miúda dos Cuidados Intensivos, que por sinal faz anos depois de amanhã, Domingo. Cheguei lá ainda não tinham começado a jantar. Na realidade estavam a pôr-lhes os pratos nas mesas, massada de peixe e lombo de porco para todos, com sangria e vinho do qual não discriminei.

                Entretanto começaram os fados. Primeiro foi um senhor velhote com um ar fofo e voz de velhote, mas que ia dando traulitadas na cabeça da amiga da Miúda dos Cuidados Intensivos. Até cantou SILÊÊÊÊÊÊNCIOOO como dica indirecta para elas que estavam a falar. Depois eu fui dar-lhe um abraço, e ele gostou muito de receber um abraço. Eu não abraço coisas porque gosto delas, abraço-as porque são fofas e eu gosto de abraçar coisas fofas. O senhor era fofo, muito expressivo, mas não especialmente bom. Nem gostei muito, mas achei que o ia fazer feliz dar-lhe um abraço. A seguir foi uma rapariga de queixo comprido, que lhe deu com toda a fé do universo. Os estrangeiros iam apreciando a situação, todos eles, aquilo estava pejado. Tanto que à saída falaram à Andrea e ao Peru em inglês, o que é perfeitamente compreensivo, dado que são ambos de terras longínquas. Depois foi um intervalo grande.
               
                Entretanto Andrea tinha saído porque o carro de McSousa estava morto. Foi buscar o Peru, que ainda não lá estava. Voltaram a meio.
               
                O terceiro fadista estava fanhoso e sempre a fungar. A quinta era a mais estranha, porque não parecia nada uma fadista, de calças de ganga e camisola rosa e cabelo pintado de amarelo. Por isso acho que não lhe dei muita atenção, mas apesar de tudo era uma pessoa querida que abria a porta para as pessoas entrarem.

                Depois fomos para o Bairro Alto, onde monopolizei uma conversa sobre o Brasil, onde o Swindoniano que não tinha conhecido, vindo directamente de Barcelona, essa pequena Meca de tudo o que gostamos, passara umas férias no meio da selva. Ele parece ter gostado muito de estar no meio da selva. Ao meu lado Andrea e resto falavam de yoga e de chakras. Entretanto fiquei só no meio do yoga e do Barça e Peru a falar em Espanhol. Perguntei a Andrea se aceitava o nome dela nas actas, porque tenho tido queixas, e ela disse que era na boa.

                Fiquei triste por não ter havido mais noite e por ninguém ter querido vir esfumaçar-se comigo. Esfumacei-me sozinha e é sempre triste, porque parece que toda a gente está mais bêbada do que realmente está e no fundo sou só eu que faço má figura. Não me importo muito de fazer má figura, porque a minha figura é má de natureza, mas não o queria ter feito ao pé dos estrangeiros. Gostava que tivesse havido mais Bairro Alto, mas a realidade é que fechou e, citando o fado, Bairro Alto triste e belo a olhar para o Castelo.

                E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Apocalipse Club Noir


No dia dezoito de Fevereiro de dois mil e onze, pelas dez horas, realizou-se no Bairro Alto uma reunião presidida por ninguém e com a presença de mim e de Andrè (anteriormente conhecido como Ricky)  e com a seguinte ordem de trabalhos.

O apocalipse e uma acta.

Antes de iniciar este relato, devo anunciar que o anteriormente conhecido como Ricky passará a chamar-se Andrè, dado que esse também é o seu nome e dado que o Andrè é um belíssimo personagem para se ser. Também porque o supracitado estava revoltado com o seu epónimo nominal das actas e eu não desejo revoltas. Além do mais, conheço-o por demasiados nomes para lhe dar um dos nomes que conheço, por isso nomino-o a partir de Andrè Grandier, leal servo de Oscar François de Jarjayes, inicialmente Capitão da Guarda do Palácio e depois General da Guarda Francesa e amiga íntima da Rainha Maria Antonieta, que perdeu a cabeça pelo jogo. Depois vive escondendo o carinho que tem por ela (não a Maria Antonieta, mas o General) e ouvindo pacientemente as suas lágrimas quando fala do amante da Maria Antonieta, depois fica cego, vai para o exército, depois ela percebe que gosta dele e há uma cena maravilhosa de fazer chorar que envolve pirilampos (se bem que na banda desenhada não envolve pirilampos, mas imagens de deuses gregos) e depois ele morre. E Oscar de Jarjayes, apesar de ser General, é uma mulher. Com calças justas e umas faixas à 80s, apesar de serem todos do tempo da revolução. Mas enfim, agora é este o nome dele e vai ser complicado de mo fazerem mudar outra vez.

Primeiro pedi à minha mãe que me levasse até ao Cais do Sodré, para depois subir com Andrè. Tinha telefonado à Dori para saber se ela queria vir, dado que mais ninguém queria por razões apocalípticas, mas ela ficou de pensar bem no assunto e depois nunca mais disse nada. A minha irmã também ia à discoteca, mas ela vai a um sítio chamado Vacas Loucas que, só pelo nome, tem todo o aspecto de ser um antro de crianças hipersexuadas e mitras. Assim que Andrè chegou, começou a chover arduamente.

Ele trazia três cervejas Cerval, apesar de um cerval não ser uma cerveja mas sim um tipo de animal. Metemo-nos debaixo do arco da Rua da Rosa e ficámos lá a apanhar chuva de lado, a falar sobre Cubensis e sobre os Melech Mechaya. Depois comprámos uma litrosa na Mercearia Amarela ao lado do Eclipse e subimos para o nosso poiso habitual, a porta do Conservatório. Não tínhamos qualquer esperança de lá ficar muito tempo, por causa da chuva que caía sem parar sobre o meu castanho guarda-chuva (com uma tirinha azul no rebordo) mas a realidade é que o degrau estava mais ou menos seco e, por isso, sentámos. Entretanto começámos a cantar, Andrè fazia o seu showcase de fados que já se vem tornando hábito e eu cantava as Bóias São Nossos Amigos Porque Evitam Que Morras Afogado.

De repente, sinto a porta atrás de mim a deslocar-se. Por um único segundo pensei que o edifício se estivesse a deslocar, ou que eu estivesse a cair, mas a realidade é que era o Guarda-Nocturno do Conservatório a sair. Desejámos-lhe “boa noite” e eu perguntei se estava tudo bem com ele. Ele disse que “ainda bem que era Sexta”. Antes havíamos constatado como o Bairro Alto estava vazio por causa da chuva, até parecia um dia de semana, mas que a realidade é que Sexta-Feira também é um dia de semana. Depois ele voltou para trás para dar duas voltas à chave, pelo que o nosso plano imediato – que era ir a correr para dentro do Conservatório e ficar lá a mexer em tudo – foi arruinado. Pode ser que para a próxima ele se esqueça. Ou nos deixe entrar. Ou qualquer coisa!

Entretanto tivemos uma conversa bastante surreal sobre orelhas, o que me perturbou bastante. Perturba-me sempre bastante quando alguém que não seja o Sohei fala de orelhas. Ao levantar-me, vi o mundo da perspectiva do estar de pé, e rimo-nos muito dessa perspectiva. Depois eu decidi que íamos andar e por isso andámos. Comprámos mais uma litrosa e avançámos, desejosos de encontrar abrigo. Viemos a encontrá-lo já perto do Martim Moniz. Era um prédio todo iluminado, onde aparentemente param prostitutas variadas. Andrà garantiu-me que elas não nos viriam abordar, nem mais ninguém, por isso sentámos numas escadas bastante confortáveis, que davam para um túnel num primeiro andar. Infelizmente o túnel estava fechado.

Mal sabíamos da criatura que nos iria abordar de seguida.

Pois estávamos nós confortavelmente a beber a nossa litrosa e a preparar o nosso próximo sabor a Holanda (que está a terminar, mas quase a terminar. Encomendei mais outra vez, mas quem sabe se chegará?) quando nos aparece um homem velho de robe, com um guarda-chuva debaixo do braço. Note-se que ainda estava a chover torrencialmente. Ora pois o homem vem pedir cigarros. Lá procurámos cigarros para lhe dar. Mas ele em vez de ir embora, foi ficando. Ficando tanto que acabou por ficar. E disse muitas coisas. Disse coisas sobre orelhas. Disse coisas sobre a mulher dele e sobre a filha dele. Mostrou-nos a foto da mulher dele, dizendo que era branca como a cal (não, era preta como uma barra de chocolate preto). Eu disse-lhe que a mulher dele já estava preocupada para ele ir para casa. Ele não foi. Falou sobre a cerveja. Disse que não bebia. Disse que bebia vinho até cair. Disse que o vinho lhe tinha estragado a cabeça, coisa que se notava bastante bem. Mostrou-nos o guarda-chuva dele, que era da mulher. Falou de irmos para um hotel, coisa que nem nos desagradou, pois até já tínhamos pensado – se tivéssemos dinheiro – fazer check-in no hotel local e ir para Narnia num hotel. Disse que éramos boas pessoas. Disse que gostava de nós. Disse que se ganhasse o Euromilhões no dia seguinte nos dava o prémio. Não me desagradou, o homem. Depois lá se foi embora e estávamos nós aliviados quando… Voltou! A descer a rua! Ainda com o guarda-chuva debaixo do braço e desta vez acompanhado por um homem, jovem com certeza mas nem por isso com ar de boa pessoa. O homem veio pedir-nos lume e lá lhe arranjámos lume para lhe dar. O homem velho começou a dizer o quão boas pessoas éramos e como éramos amigos dele, apesar de termos de ter cuidado com AQUILO (a litrosa) e com o resto. E o homem novo perguntou com ar comprometido se tínhamos daquilo (a Holanda) para ele. Andrè disse-lhe que não, ele insistiu. Eu disse que não e ele mandou-nos para certo local, dizendo que éramos maus e injustos. O homem velho foi atrás dele para lhe bater, por nos ter ofendido. E nós fugimos dali.

Fomo-nos meter debaixo das Escadinhas de São Cristóvão, a caminho do local que não tínhamos encontrado da outra vez, o Club Noir no cento e vinte e três. Debaixo das Escadinhas de São Cristóvão cantámos e dançámos The Cure e vimos que estávamos em frente da porta de um alfarrabista, que tinha um livro chamado O Mistério do Comboio Mágico na montra. Passavam por nós pessoas de vez em quando, algumas até paravam ao nosso lado. Eu havia desistido da vida e estava sentada, apesar de estar tudo molhado. Afinal já tinha a cauda molhada, não interessava que estivesse mais ou menos. Fumámos tudo bem fumado, fui ver as vistas atrás de um saco do lixo e seguimos. Sei que falámos de mais coisas, mas não sei o quê. Apenas sei que as Escadinhas de São Cristóvão são um lugar muito agradável.

                Finalmente chegamos ao Club Noir.

                Entramos, pagamos cinco euros, pedimos uma cerveja, encontramos sofás. Tocam a Boys Don’t Cry. Andrè adormece. Tocam Prodigy. Tocam O Fogo da Arcada. Convenço Andrè a acordar. Digo-lhe que são quatro da manhã, ele acorda. E pensando bem nesta noite fiz imensas coisas sozinha! Fui pedir para passarem The Cure e fui pedir duas águas tónicas! Estou a tornar-me numa criatura demasiado independente, isto é anti-natura!

                Chegados aos barcos afinal ainda falta imenso tempo para o barco. Acendemos um cigarro para fazer horas. Aparecem mitras chungosos, que nos pedem um cigarro. Tenho um maço, mas digo que não tenho. Pedem a ponta, dou-lhes a ponta, fico sem cigarro. Assaltaram-me e roubaram-me uma ponta. Esta gente é mesmo má, odeio-os.

                Depois fui para casa e no dia seguinte acordei com dores na espinal medula. No entanto tinha de ir entreter miúdos da quarta classe ao nono ano, por isso acordei à mesma, e fui entretê-los. Os miúdos que eu conhecia já estão crescidos, já mudaram a voz.

                E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Festa do Coelho

    No dia doze de Fevereiro de dois mil e onze, pelas cinco horas, realizou-se em Almada e Bairro Alto uma reunião presidida por mim e com a presença da turma de Johnny, DJ, Chico Norris, Dori, Ricky, McSousa, Andrea e outros que chegaram à noite  e com a seguinte ordem de trabalhos.

    Uma reunião para falar de Santarém, uma ida ao Bairro Alto, uma tentativa de ida a uma festa sobre coelhos e uma Acta.

    Primeiro fui a Almada, para falar de Santarém. Tínhamos de decidir coisas como datas, alimentos e estupefacientes por isso obriguei toda a gente a fazer uma reunião social. Decidimo-nos pelo dia, que faremos a lista de compras posteriormente e uma série de coisas que terão de ser escondidas, nomeadamente o escadote, o xilofone, as tintas e menta. Também há que fechar o poço e dar um presente aos vizinhos. Escrevi tudo na agenda, mas a agenda ficou no carro da McSousa. O escadote tem de ser escondido porque eu tenho uma porta elevada que permite andar sobre o soalho. No entanto podemos brincar com as ferramentas, como serrotes e martelos, com o corta relva, com tesouras de podar (segundo Chico Norris poderíamos mesmo podar ovelhas). Podemos também olhar as estrelas deitados na rede, mas não podemos ir para dentro do poço. Aliás, teremos de arranjar forma de delimitar correctamente o poço, quiçá com as fitas delimitadoras amarelas do Crime Scene Investigation. O meu poço é claramente uma conexão virtual ao Madouka e ninguém tem desejos de ir lá parar neste momento. Peço desculpa por isto, “Santarém”, ser um pequeno mistério para muitos de vós leitores de actas, mas – como devem calcular – quer-se o maior secretismo quando se fazem planos de dominação do mundo. … … … … Oh bolas.

    Durante esta reunião social bebi chá e comi uma torrada em pão alentejano. Porque a minha nova dieta envolve factos como comer de duas em duas horas, o que é extremamente complicado.
   
    Depois fui a casa de McSousa lixar jóias para cosplay. Ainda a consegui assustar enquanto secava o cabelo. E apesar de eu ter um verdadeiro mundo na cabeça, o Chopin não me ligou nenhuma. Porque sim, já na reunião social Andrea tinha virado gato em confronto com a minha cabeça. Eu decidira, nesse dia, levar todos os ganchos que tinha em casa, ao mesmo tempo. Não couberam todos na minha cabeça, mas couberam os coloridos que comprei à Shing por três euros. E as minhas orelhinhas de coelho também. Isto é relevante, porque depois era suposto irmos a uma festa temática do ano novo chinês e, como é o ano do coelho, eu levava orelhas.
   
    Jantámos no restaurante Japonês, onde tive de ensinar toda a gente a comer os sushis sashimis com as mãos e onde demonstrei a minha prática a segurar pauzinhos. Depois DJ foi ver um concerto de um homem cego e Johnny foi a uma festa. Também estavam no jantar um casal que eu conhecia mas não fui capaz de reconhecer. As minhas pulseiras voaram-me do braço e uma delas partiu-se. Só uma conta, mas ainda assim fiquei triste. Ouvimos o CD viagem da McSousa no seu carro, envolvendo a música da vaca, a música das Navegantes da Lua e a música do Samurai X. No barco para Lisboa, telefonei à minha mãe para lhe dizer que tinha de estar na Ramada num concurso de cosplay às duas e meia, se ela me podia levar, e ao meu pai a dizer-lhe das nossas de decisões de Dominação do Mundo. Falámos de como Andrea tinha sido uma irmã horrível para o Carlinhos e havia falsificado uma carta de Hogwarts a dizer que ele tinha entrado na escola de magia (o pequeno acreditou, coitadinho). Subimos a estrada e Andrea ensinou-nos a técnica de ressuscitação dos Beegees, o que daria um excelente tema de tese. Fomos ao Caricaturas buscar um Dragon Ball, do mal porque é mais fácil de beber, e encontrámos à porta a Ra-Kim-Sun – irmã de Sa-Kim-Sun - e amiga. Falavam em inglês com um senhor de extremo mau aspecto, não querendo ofender. Falámos sobre o concerto do Miyavi e sobre as pitas. Comentámos o concerto da Nana Kitade e a possibilidade de vir cá a Nami Tamaki cantar o seu anti-hit High School Queen. Eu juro que se a Nami Tamaki cá vier a spamo com e-mails dizendo “tocai a High School Queen”, até que ela toque a High School Queen e nos faça a todos felizes.

    Fomos para o Indie Rock. Comprámos uma litrosa e McSousa e Andrea voltaram para trás, para ir buscar um Pontapé na Cona. Falámos sobre como a palavra “cona” é feia e vimos o esperma no chão (um cartãozinho, possivelmente vindo de um maço de tabaco desfeito, que dizia “o esperma”. Nada de horrível!) Depois Andrea e McSousa voltaram e falámos mais da palavra cona. Andrea entrou em modo peixeira, que é o seu modo bêbado em que manda vir com as pessoas e diz “o ar é de todos o ar é de todos”. Em resposta ao ar é de todos comecei a tocar-lhe, a poká-la, nas fauces, o que – espero eu – seja algo ainda mais irritante que o facto de o ar ser de todos. Andrea tirou mais fotos à minha cabeça e encontrámos mais um dos dizeres que citam “adultos com amigos imaginários são estúpidos”.Claro que no stencil eles não se referem a amigos imaginários como eu ou como o Pipi Pantufa, mas sim ao nosso Senhor, Alá ou Zeus. Bem, Zeus é capaz de não entrar na equação, esta gente costuma ser contra as religiões tradicionais, apenas e só. Depois cantámos e cantámos muito. Ricky achava que era um baixo, mas McSousa esclareceu-lhe que era um barítono e que devia ir à procura de musicais, um musical qualquer que goste. Ricky não quis, porque o que quer é fazer um showcase de fados. Mas se o fizer em Dominação do Mundo eu não o vou ouvir e vou falar com o Infeliz se for o caso.
   
    Algures por aqui McSousa e Andrea foram buscar outro Dragon Ball. Eu e Dori, não ficando atrás, fomos buscar um vodka limão ao Indie Rock. Entretanto chegaram T., F., Wolverine e a A e ficaram lá connosco. Falei à A de fotografia e tentei ver se ela me fotografava em cosplay, mas aparentemente só o Zé Gato é que tira fotos de jeito e ela não. Pelo menos foi o que me pareceu, porque ela só dizia para eu lhe pedir a ele. Depois ninguém falava comigo, nem mesmo o Chico Norris, que ficou todo zangado e triste por eu ter saído dali, e eu saí dali. T. disse-me para eu dançar como um cisne, porque tinha um tutu, e eu dancei como um cisne. Depois expliquei a história do Lago dos Cisnes que, para quem não sabe, é sobre a princesa Odete que é transformada em cisne e depois se apaixona por um príncipe e depois o príncipe apaixona-se por Odile, que é o cisne negro criado pelo feiticeiro mau para seduzir o príncipe, e depois o cisne mata-se e é o fim. Falei um longo pedaço com T., mas começa a parecer-me que ele está sempre a gozar comigo quando fala comigo, por isso não vou voltar a falar longamente com ele. Porque eu sei que ele é um ser humano e tudo o mais, mas não gosto que gozem comigo indirectamente, prefiro que sejam directos a dizer que partes de mim é que acham engraçadas e que partes é que não têm graça.
   
    McSousa e Andrea voltaram, aparentemente ofereceram-lhes o Dragon Ball. Provavelmente porque McSousa é a grande voz do anúncio do Pingo Doce. E ficámos ali a falar e a cantar, apesar de Ricky estar sempre a insistir para irmos para a festa, não me apetecia nada, só queria ficar a falar e a cantar, a falar e a cantar. Falei e cantei e depois Ricky insistiu tanto, e ganhou Dori para o seu lado, que eu fui para a festa. Talvez eles depois fossem lá ter, mas não iam, nem foram. Descemos, descemos, descemos, descemos, subimos, subimos, subimos e depois começou a minha saga do chichi. A uretra feminina é algo misteriosamente pavoroso. Foi por causa da saga do chichi que eu não me lembro do que falei e cantei, porque comecei a delirar. Chegámos à festa e a festa tinha acabado de acabar. Por isso acabei por concretizar o chichi atrás de umas obras, e foi de proporções épicas. Já não usava a rua de banheiro pelo menos desde os Santos Populares de há dois anos! Foi um alívio tão grande que até Dori e Ricky se sentiram aliviados também. Depois fomos para as oliveiras olhar o rio e falar sobre o rio, e eu voltei a ver o SS Navy do Pokemon no horizonte. Acho que o SS Navy se apanha, na realidade, no Montijo.
   
    Parece que foi pouco, porque não sei do que falámos, mas foi uma noite mesmo interessante. Depois quando voltei para casa, ainda estava infeliz por ter deixado a McSousa e a Andrea lá em cima, por isso adormeci e sonhei que estávamos todos juntos e assim continuámos a sair.
   
    E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Jantar Japonês


No dia cinco de Fevereiro de dois mil e onze, pelas oito horas e meia hora, realizou-se no Bairro Alto uma reunião presidida por 先生 e com a presença da turma de Japonêes e do Ricky  e com a seguinte ordem de trabalhos.

Um jantar com ida ao Bairro Alto e uma acta.

É de fazer reparar que no dia anterior tínhamos ido ao Geraldine, eu, Andrea, McSousa e par, Peru e par e Princesa Fifi e par e tínhamos assim por alto combinado ir ao Bairro Alto no dia seguinte e depois eventualmente a uma festa no Clube Lua. Tal não veio a acontecer, como passaremos a explicar.

Primeiro, tinha o jantar de turma do Japonês, com a presença de ェオノル・さん、ネウザ・さん、ヌノ・さん、アナ・さん、マファルダ・さん e先生. O pobre ヌノ・さんera o único rapazito, por isso estava um pouco infeliz e perturbado. De qualquer forma, cheguei um bocado adiantada, por isso ainda pude admirar um grupo enorme de turistas japoneses que ao passar por mim se pôs aos gritos “kawaii kawaii” e ao olhar para o outro lado da rua se pôs aos gritos “oooh nihon no ryouri oooh”. Depois chegou a ネウザ・さん e o ヌノ・さん e esperamos. Depois viemos a descobrir que a  先生 e a ェオノル・さん já lá estavam sentadas e que havia três pessoas em falta, incluindo mas não limitado à バルバラ・さん

Assim, verificámos o que era cada alimento e acabei por pedir soba frio com tempura, que estava – por sinal – óptimo. Valeu a pena os vinte e tantos euros que pagámos. Também experimentei, pela primeira vez, sake. Que era quente. E é fabuloso. A partir de agora adoro sake. É como se fosse aguardente, mas com sabor. Isto é, em vez de ser aquele travo assassino que nos queima a garganta e dá vontade de morrer, tem o travo sem queimar a garganta. Excepto pelo facto de estar quente. Para sobremesa comi um youkan, que eu adoro desde que a 先生levou um para a aula. É estranho uma das músicas dos Dir en Grey se chamar Yokan, será que tem relação com a marmelada de feijão? Entretanto conversámos sobre desenhos animados, ouvimos a música da pururin, comentámos o facto de irmos todas ao concerto do Miyavi, apesar de a 先生 não saber quem é o Miyavi (nihonjin, yumeijin, aaaah), sobre o meu vestido, sobre o Taobao, entretanto entrámos por uma conversa tétrica do puto colega da アナ・さん que se tinha suicidado e tinha escrito a nota de suicídio em Japonês, pelo que a先生 teve de traduzir a coisa… E a アナ・さん não acreditava que o suicídio é o ponto de não retorno e que é possível lá chegar. Parece que tem mesmo que se lá estar para se entender a situação. Porque evidentemente que não faz sentido, é contra tudo quanto existe na nossa natureza e condição animal. Mas acontece. Às vezes as coisas que acontecem não têm que fazer sentido. É como estar à beira do abismo, mas haver abismo em todas as direcções para as quais olhamos, para trás, para a frente ou para os lados. E nada mais importa. Mas eu não disse isto, até saí da mesa, porque este assunto é demasiado desconfortável para se estar a falar à mesa do jantar como quem fala do Carlos Castro, esse belo motif de conversa que nunca nos falha na hora incerta. Também comemos Takoyaki, e eu nunca tinha comido. Tive a impressão de que já conhecia aquele sabor, mas de qualquer forma foi novidade e soube bem. Agora só preciso é de ir ao Japão comprar um nas banquinhas das feiras. É o equivalentedo churro. É um churro redondo com polvo lá dentro. Felicitámos a cozinheira, e a empregada que falava tão bem Japonês.

Depois fomos para o Catacumbas, ainda ficámos um bocado à porta a falar, sobre eyeliner e sobre gatos. A 先生ficou com sono e foi-se embora. Assim ficámos à espera do Poeta e da Magali, discorrendo sobre como as pessoas que estudam Japonês são parvas, como é difícil fazer cosplay em Portugal e como é extremamente complicado lidar com as pessoas dos eventos porque são todas crianças, ou de corpo ou de cabeça ou os dois juntos. Eu gosto de ir à mesma, não me julguem mal, apenas acho que há potencial para ser tudo muito melhor e, por alguma razão que eu ainda não consegui compreender, não é. Chegaram o Poeta e a Magali, foram-se embora aェオノル・さん e a ネウザ・さん e entretanto Ricky telefona-me a dizer que estava à porta do Catacumbas, apesar de eu ter quase a certeza de não lhe ter dito que estava no Catacumbas. Enfim, saí e viemos a descobrir que a McSousa e a Andrea tinham estado três instantes no Bairro Alto e estavam a ir embora, juntamente com o Peru, para a festa no Clube Lua. A nós não nos estava a apetecer ir naquele momento, e considerámos que estas festas eram um snobismo desnecessário para quem tinha acabado de gastar vinte e muitos euros num jantar, por isso gritámos “o Bairro é nosso!” e fomos tomar o Bairro.

Na toma do Bairro chegámos a várias conclusões, incluindo a do facto de sermos o Rei e a Princesa – porque eu estava vestida de Princesa – do Bairro Alto, e que podíamos candidatar-nos a ser o Padrinho e a Madrinha da Marcha do Bairro Alto. Falámos sobre os planos de Santarém, envolvendo o estar todo bem vestido, com um copo de whisky, perna cruzada e encostado à casota do Infeliz, a falar com ele. Recorde-se que o Infeliz foi, dos cães todos do fórum, o que sobreviveu mais tempo e ainda se mantém vivo e saudável e infeliz. Ricky disse-me para eu não dizer que era uma lolita, porque aí podiam mesmo pensar que eu era uma, e eu falei-lhe da revolta das lolitas que eu tinha concluído ao fazer o grupo das revoltadas anti-sociais. Ricky quis levar para Santarém lençóis para estar no meio do mato – eu imagino no meio das laranjeiras, perto do poço – a ouvir a Forest e a dançar, com buracos nos olhos para olharmos uns para os outros, e cada um teria de levar o seu próprio lençol. Perguntei se podiam ser lençóis todos diferentes, com as tartarugas ninja ou com os pequenos póneis, e ele disse que podia ser. Aí eu achei melhor que em vez de ser a Forest, ou a versão de 15 minutos da Forest, que fosse a Forest versão Nouvelle Vague, para estarmos no meio da natureza a contemplar a natureza. Ricky insistiu que planeássemos actividades, por isso expliquei-lhe as caminhadas. Saindo de casa temos o terreno todo. Saindo pelo pordão, fechamos o portão com cuidado, fechamos o cadeado do portão e depois, é como um dating sim: para a esquerda ou para a direita.

Direita: Sobes, sobes, sobes, sobes, sobes, sobes, sobes e vais ter ao centro da vila, se andares mais um bocadinho para a frente tens a igreja e depois tens casinhas, casinhas, casinhas, casinhas, casinhas, casinhas e casinhas.

Esquerda: Segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues e vais ter a um pântano, debaixo da autoestrada. Pântano esse que está assombrado pelo fantasma do meu cão Shadow, o que é uma coisa solenemente assustadora que não quero experimentar.

Temos é de ter cuidado com os vizinhos, que são maus. A ideia é levar-lhes um bolo, ou um melão, ou uma cesta de fruta, ou qualquer coisa, e dizer “vamos passar aqui o fim de semana, se quiser apareça”.  Ainda estou a pensar se lhes pedimos para ir lá durante a noite só mexer nos bichos, porque eles têm montes de bichos e eu só tenho o Infeliz. De qualquer forma, o amplificador está proibido de ir, nem que tenhamos de ficar em silêncio a noite toda. Não vou arriscar a que me matem o Infeliz. Ah sim, podem matar a cadlinha, a cadela que a criatura arranjou e não esterilizou, a Súria ou Fifi. Essa podem matar à vontade que não faz falta nenhuma, apesar do Infeliz até gostar dela.

Depois fomos comprar outra litrosa, mas foi mesmo complexo fazer isso, porque descemos as ruas todas, com o meu vestido redondo em forma de sino que não passa em lugares apertados, e estava fechado por isso voltámos ao Indie Rock, que era o sítio onde estávamos originalmente. Pedimos uma litrosa lá ao lado, enquanto o homem da mercearia acusava Ricky de estar todo fodido e de lhe ir estragar a casa de banho. Um grupo de senhores Africanos de meia-idade com boinas berrou “olha uma lolita!” e um deles passou a explicar aos outros que tinha uma colega do call-center que era lolita. O meu vestido foi bastante bem recebido, fora o gajo que disse que eu pertencia a uma procissão, com toda a gente a olhar de cima a baixo e a ficar espantada. Talvez depois vão para casa e vão pesquisar o que raio é aquilo. Em grande parte deste caminho estava a sentir-me uma pessoa maravilhosa, o que é sempre bom de se ser.

Entretanto アナ・さん、マファルダ・さん, o Poeta e a Magali telefonaram porque estavam a sair do Catacumbas. Como uma pessoa consegue ficar tanto tempo sem fazer nada dentro do Catacumbas na área de não fumadores é um mistério para mim, nem sequer se está bem a falar por causa dos saxofones ao vivo. Enfim, explicamos onde estávamos e eles foram lá ter. Entretanto tivemos tempo de ouvir Prodigy na rua, porque se ouvia melhor na rua do que dentro. Depois fomos para o Berlim onde ficámos algum tempo à porta à espera que se decidissem se iam entrar ou não entrar. A realidade é que a アナ・さん queria ir toda maluca dançar techno para o Frágil e ver os gays a comerem-se oh meu deus, mas a gente já não acha piada aos gays a comerem-se por isso não queríamos ir. E no Berlim está-se sempre bem, menos quando há balões (sim, uma das actas que eu não fiz e devia ter feito mas agora já não me lembro de quase nada envolvia ir para o Berlim e um ataque da pânico à conta dos malditos dos balões). Infelizmente a festa Underground que decorria estava a modos que na secção da balada lenta na altura em que fomos para a porta, por isso foram-se todos embora e só fiquei eu e o Ricky. Tenho a sensação que a マファルダ・さん queria ficar, e para a próxima consigo obrigá-la, porque basta uma pessoa adaptar-se à nossa velocidade para não querer outra coisa. Antes disso tivemos oportunidade de teorizar sobre escrever o livro Uma Aventura no Bairro Alto, com um esquema de crimes completamente à frente, com os mesmos personagens dos livros do Uma Aventura a conhecerem-nos a nós. E depois Ricky lembrou-se que era o Guardião de Narnia, e eu lembrei-me que podia ser a Princesa de Narnia, e ele pôs-se a dizer que guardava as princesas todas em Narnia fechadas à chave onde elas faziam actividades, como dar banho a unicórnios. Ao que アナ・さん colocou um inuendo sexo-erótico completamente alienígena para a situação, introduzindo assim uma imagem mental completamente desnecessária. Aquilo que tínhamos imaginado era algo completamente diferente, eram só princesas super lindas a dar banho a cavalos com um corno que eram unicórnios. Aposto que a アナ・さん nunca viu um unicórnio, e é por isso que goza com eles. Também connosco, por sermos uns carochos, mas a verdade é que quando uma pessoa se habitua ao nosso ritmo não quer outra coisa.

De qualquer forma, foram-se embora e nós entrámos no Berlim. Assim que entrámos a festa animou completamente, e ficou tudo dançável! E dançámos imenso, apesar de eu estar vestida com um sino, enquanto fazíamos um cocktail com água tónica e a tequila que o Ricky tinha trazido de casa. Agora que penso nisso, acho que conheço essa tequila de algum lado… Entretanto mandei uma mensagem ao Santetjan para que ele dissesse ao Rasmus que eu me tinha lembrado deles, com beijinhos da Nipaland. Depois fomos à rua outra vez e quando voltámos a festa acabou, por isso descemos para baixo. E ao descer para baixo a inércia metia-nos a uma velocidade completamente desnecessária, que tentámos controlar diversas vezes, sem sucesso.

Depois fui para casa e não dormi, fiquei a pensar de olhos fechados até ao meio dia do dia seguinte, que é hoje.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tia Bé

No dia quinze ou catorze ou dezasseis de Janeiro de dois mil e onze, pelas oito horas e meia hora, realizou-se na Cova da Piedade  uma reunião presidida por aniversariantes e com a presença de mais ou menos quarenta convidados  e com a seguinte ordem de trabalhos.

Um jantar com ida ao Bairro Alto e uma acta.

Antes de tudo, pedi que McSousa me desse boleia para o jantar. Ela não o desejava fazer, pois tinha ensejos de ficar toda maluca, como dizem, mas de certa forma foi convencida pela necessidade dos factos. Johnny até se ofereceu para nos ir buscar, mas de qualquer forma já estávamos no Fórum Almada para comprar a sua prenda, por isso não valia a pena. Claro que como era surpresa não lhe pudemos dizer isto e ele permaneceu convencido de que estávamos na Costa da Caparica. Fomos à Ale-Hop onde após demorada pesquisa nos decidimos por um belíssimo jogo de shots, que consiste num jogo de dardos em que se acerta na bebida destinada. No entanto o jogo parece-me um pouco contraproducente, dado que à medida que se bebe mais menos se acerta no alvo. Supomos que o jogo esteja concebido para seres masculinos que, quando bebem, ficam mais equilibrados e mais concentrados em coisas que exigem pontaria e atirar objectos uns aos outros. Nós, fêmeas, ficamos desequilibradas e com vontade de urinar, pelo que deviam inventar um jogo que envolvesse a quantidade de vezes que se urina. Depois McSousa pediu-me que comprasse tabaco por ela, que tinha vergonha, e debatemos passar na Decathlon em busca de maillots de ballet para pessoas crescidas. Também me revelou nesse momento que possivelmente iria ser a nova estrela vocal do anúncio do Pingo Doce. Depois fomos para um sítio escuro de carro e maquilhámo-nos. De seguida procurámos o local de encontro, não sem dificuldade. O local é a chamada Tia Bé, onde há uma tia chamada Bé que nos alimenta. Aquilo é numa espécie de complexo desportivo, por isso é enorme e tem meninos vestidos de futebolista a entrar e a sair e a fazer coisas de futebolista vestidos de futebolista.

Eu pus duas cores de sombra ao mesmo tempo. Isto é relevante porque combinava com o meu gorro em forma de urso arco-íris.



À entrada fiquei a saber que gorros em forma de urso são usados por chungas. Questiono-me qual a credibilidade de um chunga que nos assalta com um urso na cabeça. O mais provável no meu caso seria, em vez de lhe dar o telemóvel, dar-lhe um abraço. Ricky revelou o que já me tinha revelado por mensagem, que tinha deixado de fumar. Mas que ia fazer um parêntesis. Esse parêntesis prolongou-se pela noite inteira, por isso seria mais conveniente chamá-lo de chaveta. Entretanto Johnny tinha uma verdadeira lista de convidados, com os nomes do Facebook num ficheiro de Excel. Seríamos uns quarenta e tal.

Entrámos, pedimos a comida (por acaso um método bastante inteligente de ementa: tinham a ementa com espaços em frente, onde se marcavam tracinhos por forma a identificar quantitativamente que pratos foram escolhidos) e esperámos pela bebida. Eu tinha SEDE. Bebemos, comi um bife à café, e depois senti-me impactada por isso fui com Ricky comprar tabaco. Veio-me à realização que afinal o café Central onde se compra tabaco a caminho de Almada Velha afinal é pertíssimo da dita cuja Tia Bé e que, consequentemente, não precisava de ter pedido boleia. Na volta bebemos moscatel e café e senti-me melhor da minha impactação.

Depois foi o primeiro caos. McSousa NÃO QUERIA – exactamente assim em letras maiúsculas – ir para os barcos noutro carro que não o dela, pelo que a tivemos de empurrar e puxar até ao carro do Chico Norris. Corremos para os barcos, desta vez carregados com quatro garrafinhas do nosso Santo Padroeiro, o Don Simon, que haviam sido oferta do aniversariante para todos nós seus convidados. Chegando à estação encontro uma amiga de uma colega da minha aula de Japonês, teoricamente também minha colega mas nunca a vi numa aula, e berrei-lhe que devia vir connosco, IKOU IKOU IKEMASHOU!!!!. Mas ela não veio.

No barco, McSousa chorou dizendo que não queria ser veterinária. Consolei-a. Eu também não, não te preocupes. Depois cantou a Pocahontas com Ricky, e eu cantei também porque não tinha muito mais para fazer.

Depois foi o segundo caos. Decidimos subir para o Largo do Camões, onde está o senhor zarolho, por trás e não pela frente, isto é, pela parte onde há putas em vez de ser pela parte onde não há putas. Ainda por cima DJ ficou retido a falar com pessoas. Isto aliado a McSousa não querer andar tornou-se uma tarefa hercúlea. O ponto positivo desta subida foi que nos pudemos abraçar a um Volkswagen, um carocha (ou joaninha, ou outro insecto).

Chegados ao zarolho encontrámos as pessoas, e conhecemos novas pessoas. Alguém me pediu tabaco. Alguém desconhecido me pediu tabaco. Alguém me pediu lume.

Subimos mais e o resto encontra-se algo difuso na minha mente.

Sei que:

·         McSousa foi com Rapariga-que-conheceramos-naquele-momento dançar.
·         Mcsousa decidiu morrer, mas morreu longe de nós. Com a preocupação Chico Norris só me informava sobre qual deveria ser o meu curso de acção, mas decidi não accionar nenhuma acção. Não só porque não estava bem capaz de me levantar como sabia que McSousa não se iria levantar também e só a poderíamos demover quando fosse mesmo preciso.
·         Chico Norris telefona a Andrea para que ela dê os parabéns aos Gémeos e a Johnny.
·         Ricky tenta que Andrea lhe dê o indicativo de Inglaterra para lhe ligar. Ela liga de volta.
·         McSousa fala com Andrea e arrebita.
·         Johnny fala-me dos planos para a Festa de Celebração de Fim de Exames que farei em Santarém.
·         Johnny fala-me de ketamina, é uma verdadeira droga, o resto são só brincadeiras de meninos.
·         Eu cá sei que a ketamina é uma prostituta, porque vai com todo o mundo, isto é, pode ser associada a qualquer outro anestésico. Também vejo frequentemente gatos sob ketamina e sei exactamente que aquilo é uma verdadeira droga. Dá para ver a moca dos gatos, de fora. É uma coisa tão forte que emana. Eu também sei porque é que é possível operá-los sob ketamina: eles sentem a dor toda, simplesmente não querem saber.
·         Concordamos que a nossa imaginação tem potencial, porque podemos partilhar o que estamos a ver e ver coisas em conjugação.

Após isto sei que foram feitas mais coisas, mas não me lembro. Só consigo recordar que o café do bife à café me estava a dar a volta às vísceras abdominais e que, consequentemente, estava quase a telefonar ao meu amigo Gregório. Apesar de tudo, tinha um Don Simon na mão e por nada o podia largar. Descemos para o MusicBox, onde estava a ocorrer uma festa Mod à qual o Peru queria comparecer. Devo fazer uma nota sobre as amigas do Peru, que eu entretanto já conheci três vezes mas que, por certa razão, nunca reconheço e volto sempre a apresentar-me. Já lhes pedi desculpa, e espero que elas compreendam que a minha capacidade de memorizar coisas é limitada.

Chegada lá abaixo decido que não quero entrar, que quero apanhar ar. Ricky vem comigo e vamos ver as oliveiras. Sentamo-nos nas oliveiras e ficamos ali um bocado. Depois vamos, contra a minha vontade, ver o rio. Contra a minha vontade, sentamo-nos a ver o rio. Ricky decide deitar-se em frente do rio, também contra a minha vontade mas já não tenho nada a ver com isso. Após gritar muito que ele ia cair ao rio e morrer e imaginar exactamente essa situação na minha mente, lá o consegui demover e mobilizá-lo de volta ao MusicBox. Agora já estava óptima, mas ele não estava e nenhum de nós podia beber mais Don Simon, por isso abandonámo-lo à porta do local. Também à porta do local Ricky tomou a decisão de amochar e, progressivamente, falecer. Magicamente, Chico Manel apareceu e fizemos turnos para tomar conta de Ricky. Acabámos por conseguir trazer Chico Norris cá para fora, mas voltou para dentro logo a seguir. Decidimos ir todos lá para dentro um bocadinho apenas, e pedimos ao segurança para deitar um olhinho ao Ricky de vez em quando para ter a certeza que os aliens não o raptavam ou assim.

Toda a gente dançou com o Chico Manel, entretanto Johnny desaparecera para sempre do meu campo de visão e foi só isso.

Quando fomos para a rua, Ricky já não estava lá. Perguntámos ao segurança o que se passou e ele disse que o tinham levado. Eu morri um pouco nessa altura, mas depois ele corrigiu-se e disse que se tinha levantado e ido embora. Muito bem, fora apanhar o barco. Ou se calhar não. De qualquer forma McSousa depois informou que ele estava no barco, por isso estava tudo bem.

Chico Manel ofereceu-se para me dar boleia, por isso fomos para o carro dele e enrolámos um delicado charuto para nosso gáudio. Depois ele fez-me psicanálise em que me ouviu a falar de morder membros da família. Espero não o ter perturbado grandemente. Entretanto uns moços simpáticos disseram-nos que estava a ocorrer uma operação stop, por isso demos grande volta para ir para casa.

Chegada a casa dormi, mas depois acordei e fui directamente para um evento de anime.

Nesse evento de anime, o Digimon Lx, onde estava completamente só. Assim, decidi cumprimentar as pessoas que conhecia, fumar uma ganza num sítio escondido com umas belíssimas cadeiras para eu me sentar, e depois conhecer novas pessoas. Conheci toda a gente que estava no evento, nomeadamente uma miúda que queria meter um ácido para tocar nos cosplayers, e abracei a Leo, a Manon e o Apokas. Depois voltei para casa e senti-me a pessoas mais linda do mundo. Também tive uma ideia para uma história.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.