domingo, 6 de fevereiro de 2011

Jantar Japonês


No dia cinco de Fevereiro de dois mil e onze, pelas oito horas e meia hora, realizou-se no Bairro Alto uma reunião presidida por 先生 e com a presença da turma de Japonêes e do Ricky  e com a seguinte ordem de trabalhos.

Um jantar com ida ao Bairro Alto e uma acta.

É de fazer reparar que no dia anterior tínhamos ido ao Geraldine, eu, Andrea, McSousa e par, Peru e par e Princesa Fifi e par e tínhamos assim por alto combinado ir ao Bairro Alto no dia seguinte e depois eventualmente a uma festa no Clube Lua. Tal não veio a acontecer, como passaremos a explicar.

Primeiro, tinha o jantar de turma do Japonês, com a presença de ェオノル・さん、ネウザ・さん、ヌノ・さん、アナ・さん、マファルダ・さん e先生. O pobre ヌノ・さんera o único rapazito, por isso estava um pouco infeliz e perturbado. De qualquer forma, cheguei um bocado adiantada, por isso ainda pude admirar um grupo enorme de turistas japoneses que ao passar por mim se pôs aos gritos “kawaii kawaii” e ao olhar para o outro lado da rua se pôs aos gritos “oooh nihon no ryouri oooh”. Depois chegou a ネウザ・さん e o ヌノ・さん e esperamos. Depois viemos a descobrir que a  先生 e a ェオノル・さん já lá estavam sentadas e que havia três pessoas em falta, incluindo mas não limitado à バルバラ・さん

Assim, verificámos o que era cada alimento e acabei por pedir soba frio com tempura, que estava – por sinal – óptimo. Valeu a pena os vinte e tantos euros que pagámos. Também experimentei, pela primeira vez, sake. Que era quente. E é fabuloso. A partir de agora adoro sake. É como se fosse aguardente, mas com sabor. Isto é, em vez de ser aquele travo assassino que nos queima a garganta e dá vontade de morrer, tem o travo sem queimar a garganta. Excepto pelo facto de estar quente. Para sobremesa comi um youkan, que eu adoro desde que a 先生levou um para a aula. É estranho uma das músicas dos Dir en Grey se chamar Yokan, será que tem relação com a marmelada de feijão? Entretanto conversámos sobre desenhos animados, ouvimos a música da pururin, comentámos o facto de irmos todas ao concerto do Miyavi, apesar de a 先生 não saber quem é o Miyavi (nihonjin, yumeijin, aaaah), sobre o meu vestido, sobre o Taobao, entretanto entrámos por uma conversa tétrica do puto colega da アナ・さん que se tinha suicidado e tinha escrito a nota de suicídio em Japonês, pelo que a先生 teve de traduzir a coisa… E a アナ・さん não acreditava que o suicídio é o ponto de não retorno e que é possível lá chegar. Parece que tem mesmo que se lá estar para se entender a situação. Porque evidentemente que não faz sentido, é contra tudo quanto existe na nossa natureza e condição animal. Mas acontece. Às vezes as coisas que acontecem não têm que fazer sentido. É como estar à beira do abismo, mas haver abismo em todas as direcções para as quais olhamos, para trás, para a frente ou para os lados. E nada mais importa. Mas eu não disse isto, até saí da mesa, porque este assunto é demasiado desconfortável para se estar a falar à mesa do jantar como quem fala do Carlos Castro, esse belo motif de conversa que nunca nos falha na hora incerta. Também comemos Takoyaki, e eu nunca tinha comido. Tive a impressão de que já conhecia aquele sabor, mas de qualquer forma foi novidade e soube bem. Agora só preciso é de ir ao Japão comprar um nas banquinhas das feiras. É o equivalentedo churro. É um churro redondo com polvo lá dentro. Felicitámos a cozinheira, e a empregada que falava tão bem Japonês.

Depois fomos para o Catacumbas, ainda ficámos um bocado à porta a falar, sobre eyeliner e sobre gatos. A 先生ficou com sono e foi-se embora. Assim ficámos à espera do Poeta e da Magali, discorrendo sobre como as pessoas que estudam Japonês são parvas, como é difícil fazer cosplay em Portugal e como é extremamente complicado lidar com as pessoas dos eventos porque são todas crianças, ou de corpo ou de cabeça ou os dois juntos. Eu gosto de ir à mesma, não me julguem mal, apenas acho que há potencial para ser tudo muito melhor e, por alguma razão que eu ainda não consegui compreender, não é. Chegaram o Poeta e a Magali, foram-se embora aェオノル・さん e a ネウザ・さん e entretanto Ricky telefona-me a dizer que estava à porta do Catacumbas, apesar de eu ter quase a certeza de não lhe ter dito que estava no Catacumbas. Enfim, saí e viemos a descobrir que a McSousa e a Andrea tinham estado três instantes no Bairro Alto e estavam a ir embora, juntamente com o Peru, para a festa no Clube Lua. A nós não nos estava a apetecer ir naquele momento, e considerámos que estas festas eram um snobismo desnecessário para quem tinha acabado de gastar vinte e muitos euros num jantar, por isso gritámos “o Bairro é nosso!” e fomos tomar o Bairro.

Na toma do Bairro chegámos a várias conclusões, incluindo a do facto de sermos o Rei e a Princesa – porque eu estava vestida de Princesa – do Bairro Alto, e que podíamos candidatar-nos a ser o Padrinho e a Madrinha da Marcha do Bairro Alto. Falámos sobre os planos de Santarém, envolvendo o estar todo bem vestido, com um copo de whisky, perna cruzada e encostado à casota do Infeliz, a falar com ele. Recorde-se que o Infeliz foi, dos cães todos do fórum, o que sobreviveu mais tempo e ainda se mantém vivo e saudável e infeliz. Ricky disse-me para eu não dizer que era uma lolita, porque aí podiam mesmo pensar que eu era uma, e eu falei-lhe da revolta das lolitas que eu tinha concluído ao fazer o grupo das revoltadas anti-sociais. Ricky quis levar para Santarém lençóis para estar no meio do mato – eu imagino no meio das laranjeiras, perto do poço – a ouvir a Forest e a dançar, com buracos nos olhos para olharmos uns para os outros, e cada um teria de levar o seu próprio lençol. Perguntei se podiam ser lençóis todos diferentes, com as tartarugas ninja ou com os pequenos póneis, e ele disse que podia ser. Aí eu achei melhor que em vez de ser a Forest, ou a versão de 15 minutos da Forest, que fosse a Forest versão Nouvelle Vague, para estarmos no meio da natureza a contemplar a natureza. Ricky insistiu que planeássemos actividades, por isso expliquei-lhe as caminhadas. Saindo de casa temos o terreno todo. Saindo pelo pordão, fechamos o portão com cuidado, fechamos o cadeado do portão e depois, é como um dating sim: para a esquerda ou para a direita.

Direita: Sobes, sobes, sobes, sobes, sobes, sobes, sobes e vais ter ao centro da vila, se andares mais um bocadinho para a frente tens a igreja e depois tens casinhas, casinhas, casinhas, casinhas, casinhas, casinhas e casinhas.

Esquerda: Segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues, segues e vais ter a um pântano, debaixo da autoestrada. Pântano esse que está assombrado pelo fantasma do meu cão Shadow, o que é uma coisa solenemente assustadora que não quero experimentar.

Temos é de ter cuidado com os vizinhos, que são maus. A ideia é levar-lhes um bolo, ou um melão, ou uma cesta de fruta, ou qualquer coisa, e dizer “vamos passar aqui o fim de semana, se quiser apareça”.  Ainda estou a pensar se lhes pedimos para ir lá durante a noite só mexer nos bichos, porque eles têm montes de bichos e eu só tenho o Infeliz. De qualquer forma, o amplificador está proibido de ir, nem que tenhamos de ficar em silêncio a noite toda. Não vou arriscar a que me matem o Infeliz. Ah sim, podem matar a cadlinha, a cadela que a criatura arranjou e não esterilizou, a Súria ou Fifi. Essa podem matar à vontade que não faz falta nenhuma, apesar do Infeliz até gostar dela.

Depois fomos comprar outra litrosa, mas foi mesmo complexo fazer isso, porque descemos as ruas todas, com o meu vestido redondo em forma de sino que não passa em lugares apertados, e estava fechado por isso voltámos ao Indie Rock, que era o sítio onde estávamos originalmente. Pedimos uma litrosa lá ao lado, enquanto o homem da mercearia acusava Ricky de estar todo fodido e de lhe ir estragar a casa de banho. Um grupo de senhores Africanos de meia-idade com boinas berrou “olha uma lolita!” e um deles passou a explicar aos outros que tinha uma colega do call-center que era lolita. O meu vestido foi bastante bem recebido, fora o gajo que disse que eu pertencia a uma procissão, com toda a gente a olhar de cima a baixo e a ficar espantada. Talvez depois vão para casa e vão pesquisar o que raio é aquilo. Em grande parte deste caminho estava a sentir-me uma pessoa maravilhosa, o que é sempre bom de se ser.

Entretanto アナ・さん、マファルダ・さん, o Poeta e a Magali telefonaram porque estavam a sair do Catacumbas. Como uma pessoa consegue ficar tanto tempo sem fazer nada dentro do Catacumbas na área de não fumadores é um mistério para mim, nem sequer se está bem a falar por causa dos saxofones ao vivo. Enfim, explicamos onde estávamos e eles foram lá ter. Entretanto tivemos tempo de ouvir Prodigy na rua, porque se ouvia melhor na rua do que dentro. Depois fomos para o Berlim onde ficámos algum tempo à porta à espera que se decidissem se iam entrar ou não entrar. A realidade é que a アナ・さん queria ir toda maluca dançar techno para o Frágil e ver os gays a comerem-se oh meu deus, mas a gente já não acha piada aos gays a comerem-se por isso não queríamos ir. E no Berlim está-se sempre bem, menos quando há balões (sim, uma das actas que eu não fiz e devia ter feito mas agora já não me lembro de quase nada envolvia ir para o Berlim e um ataque da pânico à conta dos malditos dos balões). Infelizmente a festa Underground que decorria estava a modos que na secção da balada lenta na altura em que fomos para a porta, por isso foram-se todos embora e só fiquei eu e o Ricky. Tenho a sensação que a マファルダ・さん queria ficar, e para a próxima consigo obrigá-la, porque basta uma pessoa adaptar-se à nossa velocidade para não querer outra coisa. Antes disso tivemos oportunidade de teorizar sobre escrever o livro Uma Aventura no Bairro Alto, com um esquema de crimes completamente à frente, com os mesmos personagens dos livros do Uma Aventura a conhecerem-nos a nós. E depois Ricky lembrou-se que era o Guardião de Narnia, e eu lembrei-me que podia ser a Princesa de Narnia, e ele pôs-se a dizer que guardava as princesas todas em Narnia fechadas à chave onde elas faziam actividades, como dar banho a unicórnios. Ao que アナ・さん colocou um inuendo sexo-erótico completamente alienígena para a situação, introduzindo assim uma imagem mental completamente desnecessária. Aquilo que tínhamos imaginado era algo completamente diferente, eram só princesas super lindas a dar banho a cavalos com um corno que eram unicórnios. Aposto que a アナ・さん nunca viu um unicórnio, e é por isso que goza com eles. Também connosco, por sermos uns carochos, mas a verdade é que quando uma pessoa se habitua ao nosso ritmo não quer outra coisa.

De qualquer forma, foram-se embora e nós entrámos no Berlim. Assim que entrámos a festa animou completamente, e ficou tudo dançável! E dançámos imenso, apesar de eu estar vestida com um sino, enquanto fazíamos um cocktail com água tónica e a tequila que o Ricky tinha trazido de casa. Agora que penso nisso, acho que conheço essa tequila de algum lado… Entretanto mandei uma mensagem ao Santetjan para que ele dissesse ao Rasmus que eu me tinha lembrado deles, com beijinhos da Nipaland. Depois fomos à rua outra vez e quando voltámos a festa acabou, por isso descemos para baixo. E ao descer para baixo a inércia metia-nos a uma velocidade completamente desnecessária, que tentámos controlar diversas vezes, sem sucesso.

Depois fui para casa e não dormi, fiquei a pensar de olhos fechados até ao meio dia do dia seguinte, que é hoje.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

Sem comentários:

Enviar um comentário