sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Casa de Fados


No dia dezoito de Fevereiro de dois mil e onze, pelas dez horas, realizou-se em Alfama uma reunião presidida por Andrea e com a presença de mim, do Peru e de algum pessoal de Swindon  e com a seguinte ordem de trabalhos.

                Uma noite de fados e uma acta.

                Anteriormente tinha estado em casa de Andreia com a Princesa Fifi, a beber chá, comer bolo de chocolate e a ver a Annie Hall. Chegámos à conclusão que o Woody Allen é horrível, porque é – simples e puramente – das pessoas mais irritantes que há à face da Terra. Além disso é feio e peludo mas as mulheres com quem ele fica nos filmes são sempre bonitas. Algo completamente anormal.

                Depois fui a casa e à noite, como McSousa não respondia aos requerimentos, tomei um táxi para ir para a casa de fados em Alfama onde Andrea iria jantar com o pessoal de Swindon e com os amigos da Miúda dos Cuidados Intensivos, que por sinal faz anos depois de amanhã, Domingo. Cheguei lá ainda não tinham começado a jantar. Na realidade estavam a pôr-lhes os pratos nas mesas, massada de peixe e lombo de porco para todos, com sangria e vinho do qual não discriminei.

                Entretanto começaram os fados. Primeiro foi um senhor velhote com um ar fofo e voz de velhote, mas que ia dando traulitadas na cabeça da amiga da Miúda dos Cuidados Intensivos. Até cantou SILÊÊÊÊÊÊNCIOOO como dica indirecta para elas que estavam a falar. Depois eu fui dar-lhe um abraço, e ele gostou muito de receber um abraço. Eu não abraço coisas porque gosto delas, abraço-as porque são fofas e eu gosto de abraçar coisas fofas. O senhor era fofo, muito expressivo, mas não especialmente bom. Nem gostei muito, mas achei que o ia fazer feliz dar-lhe um abraço. A seguir foi uma rapariga de queixo comprido, que lhe deu com toda a fé do universo. Os estrangeiros iam apreciando a situação, todos eles, aquilo estava pejado. Tanto que à saída falaram à Andrea e ao Peru em inglês, o que é perfeitamente compreensivo, dado que são ambos de terras longínquas. Depois foi um intervalo grande.
               
                Entretanto Andrea tinha saído porque o carro de McSousa estava morto. Foi buscar o Peru, que ainda não lá estava. Voltaram a meio.
               
                O terceiro fadista estava fanhoso e sempre a fungar. A quinta era a mais estranha, porque não parecia nada uma fadista, de calças de ganga e camisola rosa e cabelo pintado de amarelo. Por isso acho que não lhe dei muita atenção, mas apesar de tudo era uma pessoa querida que abria a porta para as pessoas entrarem.

                Depois fomos para o Bairro Alto, onde monopolizei uma conversa sobre o Brasil, onde o Swindoniano que não tinha conhecido, vindo directamente de Barcelona, essa pequena Meca de tudo o que gostamos, passara umas férias no meio da selva. Ele parece ter gostado muito de estar no meio da selva. Ao meu lado Andrea e resto falavam de yoga e de chakras. Entretanto fiquei só no meio do yoga e do Barça e Peru a falar em Espanhol. Perguntei a Andrea se aceitava o nome dela nas actas, porque tenho tido queixas, e ela disse que era na boa.

                Fiquei triste por não ter havido mais noite e por ninguém ter querido vir esfumaçar-se comigo. Esfumacei-me sozinha e é sempre triste, porque parece que toda a gente está mais bêbada do que realmente está e no fundo sou só eu que faço má figura. Não me importo muito de fazer má figura, porque a minha figura é má de natureza, mas não o queria ter feito ao pé dos estrangeiros. Gostava que tivesse havido mais Bairro Alto, mas a realidade é que fechou e, citando o fado, Bairro Alto triste e belo a olhar para o Castelo.

                E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

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