sábado, 14 de maio de 2011

Duas Noites em Almada

    No dia vinte e nove de Abril e no dia sete de Maio de dois mil e onze, pelas dez horas, realizou-se em Almada uma e outra reunião presidida por ninguém e com a presença de peixes-lua e com a seguinte ordem de trabalhos.

    Passeios em Almada e actas.

    Se a felicidade é a melhor moca, porque é que eu não estou a tripar?

    Foram dois dias distintos, aqui conjugados por serem antíteses irreais um do outro. é facto que são dois dias diferentes e que, consequentemente, precisam de actas diferentes mas, como o tempo urge até à próxima sexta-feira e como se passaram ambas no mesmo local de maneiras completamente opostas, estão aqui as duas, numa única só acta.

    Primeiro, dirigi-me a Almada. Queriam todos ir tomar café e beber cervejas, por isso fomos. Só depois vim a descobrir que esta era a noite de despedida do Santuário do Rock, que estava prestes a mudar-se para uma nova casa. Convidei a Shing para vir ter connosco assim que cheguei a Almada e esperei. Depois de esperar, telefonei ao Andrè, que não me atendeu. E depois de esperar mais telefonei à Cristina, que me atendeu e me revelou que estava já há um quarto de hora à espera em frente do local de onde eu tinha saído por estarem lá mânfios de aspecto ameaçador.

    E assim seguimos para dentro do Covil, que não se parecia nada com o Covil que eu conheço e que é o habitual. Em vez da música assustadoramente gógó que costuma lá estar dentro, era noite de 80s! Até os morcegos na parede pareciam estar mais neon. Pedimos uma sangria, aliás Cristina foi pedir uma sangria para nós e depois foi buscá-la, e a Shing telefonou a perguntar como é que se ia para Almada Velha. Extraordinario como uma pessoa que vive em Almada não sabia que Almada Velha era Almada Velha e sempre lhe tinha chamado Ginjal porque o elevador que há no miradouro vai ter ao Ginjal. Vi-a a chegar com o Ark pela janela quando me estava a dirigir à casa de banho. Foi difícil para mim ir à casa de banho, porque estava tudo escuro e eu estava com medo que aquilo estivesse fechado e não fosse suposto eu estar ali. Por isso Cristina veio comigo e depois indicou onde estávamos à Shing e ao Ark, pessoas sobre as quais havia grande curiosidade em saber como eram.

    Falei com eles sobre cosplay, do meu projecto de fazer a grandessíssima Manager dos Detroit Metal City e sobre como na semana seguinte iria dançar Marco Paulo vestida de Navegante de Júpiter. Eles falaram-me que iam fazer de Joker e Harley Quinn no hospício e eu ofereci-me para emprestar uma roupa de hospício, que tinha utilizado na Cantora Careca, se porventura a encontrasse. Avanço desde já que acabei por não a encontrar. Lembrei-me que não tinha trazido a minha fatídica bolsinha chinesa, e teefoná-mos a Johnny e Ivone para saber onde eles andavam. Não só por este motivo, mas também tinhamos saudades deles. Estavam os dois em Lisboa, na minha própria terra, e senti-me vagamente infeliz. Depois dançámos I Need a Hero e Shing e Ark foram-se embora pela meia noite. Nós fomos para o Santuário, onde estava a decorrer a tal festa de despedida da antiga casa. Estava cheio de gente.

    Eu estava desmotivada, por isso Andrè foi comigo ver o rio. E foi aí que ele me disse que a felicidade era a melhor moca, mas eu não estava com a moca e não estava feliz por diversas razões, que envolviam a minha relação com o mundo que me rodeia, a minha dieta, a medicina veterinária, o meu cosplay e o universo em geral. Ele lá me convenceu a perder o barco, e a ficar até às cinco da manhã em casa de alguém, na casa daquela outra pessoa onde tinhamos ido parar acidentalmente da outra vez.

    Encontrei a Vanda Larga, que eu conheço do universo do cosplay, e decidi alegrar-me com um belíssimo vodka limão, minha bebida de eleição. Animou-me logo, e ainda tive uma discussão pouco interessante mas acesa com um ex-presidiário cujos cães tinham ido de cana por terem mordido uma pessoa, coitadinhos que não tinham culpa nenhuma, e ele tinha andado na coca durante quinze anos mas que agora estava limpo e coitadinhos dos cães e pobrezinha da mãe dele. Assim aprendi que não devo mais falar com pessoas desconhecidas, sobretudo homens com tatuagens mal feitas, quando estou bêbada, porque podem ser ex-presidiários que não têm seguro para os seus cães, que eram todos rafeiros e não eram pit-bulls mas ainda assim foram parar ao canil, onde serão abatidos dentro de 80 dias se ninguém os for resgatar.

    Espero que tenham sido resgatados.

    Depois falei à Vanda Larga do cosplay e conheci o amigo dela que era brasileiro. Expliquei que também fui inventada semi-brasileira, e ainda falei com o sotaque do meu avô, mas acho que ele não acreditou em mim e pensou que eu estava a gozar com ele. Ele não sabe do trilegal. E entretanto fomos para a tal casa aleatória, que afinal não era assim tão aleatória. Surpreendi-me que o Skull, acho que foi esse o nome que lhe deram, ser do universo do anime e fiquei feliz por haver outras pessoas malucas como eu a ir a estes eventos para crianças. Espero encontrá-lo eventualmente um dia num evento maior onde eu não tenha de passar o dia no backstage, para nos podermos divertir.

    Na sua casa, que tinha um jardim rodeado de cães a ladrar nas casas em volta, ele ofereceu-nos vinho. Fomos para a varanda, mas ele, Cristina, Vanda Larga e o seu amigo, ficaram na sala a ver Big Bang Theory. Andrè queria tocar no baixo, mas não o deixaram. Na varanda recordámos que tinhamos visto o Nosso Senhor a dançar no telhado da casa em frente, todo vestido de preto (e eu por acaso via-o com o cabeo curto e loiro como na Vanilla). Chico Norris foi-se embora porque estava com cólicas e DJ veio acompanhar-nos. Ficaram a falar sobre música enquanto eu adormeci um bocadinho e concluiram que quando fizerem festas dos 00s, tal como hoje fazem festas dos 80s e dos 90s, iriam passar Arcade Fire, o Fogo da Arcada que eu espero ir ver no SBSR este ano se os exames assim o permitirem.

    Insisti que fôssemos embora pelas quatro e meia, dado o meu medo de ficar em terra como da outra vez. Descemos e Cristina revelu o seu medo de voltar para casa sozinha, dado que "os pretos nunca dormem". Espero que os Pretos da Noite não a tenham assaltado.

    E assim voltei para casa.

    Na semana seguinte voltei a Almada. Queria sair no Sábado, para celebrar o meu terceiro lugar nas preliminares do Eurocosplay. É verdade que éramos só três, mas sinto-me muito orgulhosa com o meu terceiro prémio, em cuja apresentação fiz uma performance ao som da música dos CocoRosie que citava "Se todos os anjos são terríveis porque lhes dás as boas vindas Se todos os anjos são terríveis porque lhes dás as boas vindas Se todos os anjos são terríveis porque lhes dás as boas vindas Tu dás o poleiro Eu dou a pele E banho-me à luz da lua Devo tremer como um gatinho Crianças de olhos azuis criadas como os filhos e noivas do Hitler Como rapazes que ajem como rainhas Se todos os anjos são terríveis porque a vês a dormir Tens roxo nos anéis e as flores não têm perfume E a criança foi abortada" E durante esta apresentação eu reguei-me com um regador, e meti-me debaixo de um cobertor e agarrei-me ao ventre a gritar e atirei-me ao chão causando duas severas nódoas negras nos joelhos.

    Enfim, Chico Norris foi-me buscar a Cacilhas e eu dei-lhe uma fita. Fomos para o café do Ivo onde nós falámos de plataformas de petróleo, barragens e do poder da água. Depois chegou o Andrè e falámos do Exorcista, do qual eu só vi bocados porque tenho medo de ver tudo. Contei-lhes da vez em que fui ver a Casa de Cera em Santarém, na última sessão, e depois tive de voltar, à uma da manhã, sozinha para casa. Fiz o caminho de dez minutos cheia de medo a pensar que o homem da casa de cera estava em todas as esquinas, prestes a matar-me e a cobrir-me com era para ser só mais uma estátua entre todas as outras.

    Johnny informou que estava na antiga Tasca do Cão, que agora é um bar relacionado com surf e já não tem cão (um cão bem grande, bem simpático e bem preto, era como o cão da morte do livro do Harry Potter, mas mais fofo, era um cruel queriducho). Lá fomos ter e também estava á DJ e a Ana Maria. Acabei de lhe dar este nome, da outra vez ela foi chamada "amigas que vinham com Johnny", acho que ela tem aquela aura semi-trágica mas feliz da Ana Maria do filme Todos os Cães Merecem o Céu, por isso dei-lhe este nome. Todos observaram os meus grandes olhos azuis e congratularam-me pelo terceiro prémio (antes de saberem que éramos só três). Dei uma fita ao Johnny. Pedimos uma sangria, deu dois copos a cada um, e fiquei mais contente. Depois revelei a minha bolsinha chinesa, desta vez eu tinha-a trazido, e fomos para as piscinas. Entretanto alguém falou de algo para adultos, e eu achei por bem mencionar o facto de que tinha um livro para adultos dentro da mala.

    Kiss All the Boys era o nome do livro. Expliquei a história enquanto o manuseavam e viam as imagens que lá estavam dentro. Este livro, que é uma colecção de três volumes, fala sobre um homem que escreve banda desenhada pornográfica, e que é impotente. Entretanto, o seu filho homossexual vai viver com ele. Descobre-se que o seu melhor amigo está apaixonado por ele e entretanto ele tem um caso com o vizinho. O filho dele tem um apaixonado, que é o Tama-kun, cuja irmã é uma estrela de filmes porno. Por isso o miúdo tem medo de se relacionar e vêm os dois, o puto e o escritor, a ter um caso também. Mas depois acaba tudo em bem e pai e filho redescobrem uma relação que não tinham um com o outro (e que não era, na realidade, incestuosa, apesar de parecer pelo curso que a história tomou entretanto). Também revelei que escrevo homoerótica nos meus tempos livres, quando não estou a escrever actas, nem histórias para crianças, nem a coser roupas, nem a ver desenhos animados, nem a etc. Johnny perguntou-me de onde isto apareceu e eu expliquei que uma vez o meu stepfather me trouxe uma revista com um artigo sobre banda desnehada japonesa. O título do artigo era "Amor entre eles para elas". Depois fui pesquisar e encontrei Ai no Kusabi, animação maravilhosa (9 em 10 na minha classificação) de 1992, primeira animação do género a ser alguma vez feita. Significa "No limite do amor", e fartaram-se de gozar comigo por causa disto. Eu disse-lhes que não conto isto a toda a gente, e a verdade é que não o conto a toda a gente quando não me perguntam, mas não me importo que se saiba, até porque posso ganhar mais leitores. Bem, apesar de terem gozado comigo acho que perceberam o objectivo da coisa: são histórias de amor entre homens escritas por mulheres para mulheres lerem.

    Nas piscinas Johnny abriu a garrafeira que tinha, mas não apenas, a Coisa Rosa que eu e a Cristina tinhamos obrigado toda a gente a comprar em Nárnia. Recordámos Nárnia e depois Johnny revelou um certo plano maléfico em que eu não tenciono participar por uma série de motivos lógicos.

    Durante todo este tempo eu estava a sentir-me só e confusa, mas ninguém me ligava nenhuma. Consegui, no entanto, observar o potencial da franga da Ana Maria.

    Depois fui-me embora e entrei em paranóia no barco, cheia de medo de um grupo de Pretos da Noite que estavam claramente a vigiar-me e a prepararem-se para me matar. Fugi deles até chegar a um taxi e depois pensei que o taxi me fosse raptar, porque foi por um estranho caminho.

    E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

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