quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fim do Mundo

    No dia vinte e um de Maio de dois mil e onze, pelas nove horas e meia, realizou-se em Almada uma reunião presidida por garrafa de rum e com a presença de mim, Chico Norris, Johnny, Andrè, Cristina e DJ e com a seguinte ordem de trabalhos.

    Uma viagem atribulada, visita ao novo Santuário, vodka e uma acta.

    Sentia-me inspirada por um filme antigo com o Nicholas Cage em que ele não aparecia com a mesma cara de sempre. Por isso decidi levar uma surpresa, denominada de Muahahaha. O Muahahaha fora comprado no Qualisuper, ao pé da minha casa, e foi uma decisão inspirada e momentânea. O Muahahaha era uma garrafa de Rum. Eu nunca tinha bebido rum e estava, evidentemente, curiosa em saber o que é que era. A garrafa tinha no rótulo um carro cor de rosa.

    Fui para Almada imediatamente depois de jantar e dirigimo-nos para o cefé do Ivo. Eu tinha falado com umas pessoas na internet e, para poder ser identificada caso me quisessem identificar, levava as minhas orelhas de coelho a combinar com o resto da roupa toda fairy-kei, com tutu cor de rosa e cardigan cor de menta. No café do Ivo, eu e Chico Norris esperámos e falámos sobre a grandiosidade do Grande Senhor Que É Em Tudo Sagrado. Chico Norris não acredita que é mesmo Ele a actualizar o Seu sagrado Twitter, mas eu tenho a certeza que é, pois respostas daquelas são impossíveis de ser concebidas por outra cabeça. Além disso, Ele já me respondeu a um e-mail, e a verdade é que foi mesmo Ele e não outra pessoa ou uma resposta automática. Depois chegou o DJ. Eu fui pedir um bolo de chocolate, por forma a quebrar a minha dieta pela primeira vez nessa semana, e esperámos arduamente por ele. Quando finalmente chegou, era delicioso. Entretanto chegou Andrè, que não queria falar do fim do mundo e me tentou convencer a fazer um ritual a fingir para uma grande produção Zé Gato que há-de vir a ganhar prémios em Cannes e em Berlim. Eu disse que não, veementemente, porque a minha religião é a única coisa com que eu não brinco e com a qual não acho piada brincar. Acredito que numa brincadeira destas há a possibilidade de abrir portas que não queremos abrir e que dessas portas saiam coisas que não queremos conhecer. Sem um controlo adequado, coisa que com toda a certeza não haverá nem, mesmo se eu quisesse ir, não me deixariam fazer porque tornaria toda a coisa menos artística, pode ser perigoso e nesta fase astral da minha vida não desejo que nada de mal lhe toque.

    Depois veio a Cristina e a sua mãe. Ficámos sem cadeiras porque a mãe da Cristina se apoderou da minha e o café estava cheio, por isso mudámos a mesa de sítio para perto de um murete, entornando algo sobre as mortalhas do Andrè no processo. A mãe da Cristina estava triste e infeliz porque tinha ido sair com umas amigas e tinha sido uma seca, por isso tinha vindo ter connosco para se animar. Espero tê-la podido animar, que todos nós a tenhamos animado, dado que ela estava realmente infeliz. Andrè tentava afastar a negatividade, mas parecia espalhá-la um pouco mais. Ele queria ir para o Santuário ouvir um DJ, por isso lá seguimos. Entretanto criou-se um problema. O meu Muahahaha seria suficiente para sobreviver toda a noite do fim do mundo (sim, porque o mundo era suposto ter acabado no sábado, isto é, no dia a seguir a esta noite. Isto segundo uma seita cristã Americana), sem nenhum Don Simon a acompanhar? Poderíamos comprar litrosas, mas ficariam quentes. Qual o mal de beber cerveja quente? Passam o tempo todo a fazê-lo na Irlanda. Decidimos ir às bombas de gasolina e lá decidimos comprar vodka. O homem que atendia era um pouco lento e limitado, e eu manifestei a minha injusta opinião de que pessoas lentas e limitadas chamadas Miguel não devem estar em bombas de gasolina quando eu estou na fila para comprar coisas na bomba de gasolina.

    Ao voltar, Chico Norris de repente parou a sua viatura. Eu e Andrè íamos com a Cristina. Ao vê-lo parar, parámos também. DJ abriu a mala do carro e levou as mãos à cabeça. Chico Norris olhou e pareceu horrorizado. O pior tinha acontecido. As duas garrafas, vodka e rum, tinham-se incompatibilizado dentro da mala do carro do Chico, talvez devido a uma condução veloz e travagens bruscas. A sobrevivente... Foi a garrafa de vodka. Continuámos, mas pelo caminho nós - no carro da Cristina - decidimos voltar para o lento Miguel e comprar outra coisa. Questionei-me se haveria rum ou se essa noite não seria a primeira vez que ia beber rum. Não foi. Comprámos outra garrafa de vodka e seguimos. Chegados às piscinas, encontrámos o Esteves com a arraçada de pointer e pitbull Cookie e um amigo. Ele ajudou Cristina a estacionar e foi-se. Nós decidimos fumar um pedaço da Holanda enquanto lá estávamos, e observámos coisas interessantes. Observámos que estava um zombie na parede. E que os zombies estavam por toda a parte. Na realidade, eu ouvia-os a urrar gritos de acasalamento ao longe. Estava a ser verdadeiramente assustador. Um pequeno barulho indicou-nos que os zombies estavam mais perto. Os zombies estavam mesmo por toda a parte. Observámos que a lua era o holofote do Batman e que as casas no topo da rua só eram atingíveis pelo Batman, que iria até elas a planar. E que os zombies viviam lá.

    Almada estava mesmo cheia de zombies.

    Levantar foi uma aventura certamente interessante e andar também. Pelo caminho decidimos por o Chico Norris de castigo, porque ele partiu a garrafa de vodka. Isto quando a Cristina nos lembrou que ele ia ficar zangado connosco por termos consumido um pedaço de verde sem o consultar. Lembrei-me outra vez dos zombies e passámos pela nossa casa, minha e do Andrè, que só se vê da parte de dentro e até tem móveis.

    O novo Santuário é menos interessante que o antigo, parece vulgar, apesar de ter uma esplanada. Fomos lá dentro e ouvimos The Cure. Voltámos para a rua, eu não me aguentava dentro do local por causa do fumo e do calor e do atrofio que é aquela gente toda, e encontrámos Johnny. Depois apareceu a Ivone, mas eu estava prisioneira atrás dos gradeamentos do novo Santuário e não podia sair. Falei-lhe dos zombies, ela disse que ainda não tinha visto nenhum. Depois ela entrou e fomos pedir um moscatel. Combinámos que no Baile de Finalistas ela e eu iríamos dar um giro, encontrar o canto mais fixe, e fazer daquilo a zona lounge do Baile, apenas com as pessoas certas. Ivone tinha-me mandado uma mensagem, que eu só vi depois disso. Dizia "onde é que andas caralho". Fiquei admirada pelo teor da mensagem, mas compreendi a urgência em saber a minha localização pois, como todos sabem, não só os zombies andam por aí como as câmaras municipais andam por aí a recolher os animais errantes.

    Informei a Chico Norris que ele estava de castigo e, inesperadamente para nós, ele levou isso profundamente a mal. Mal sabia eu que ia acontecer isto, ou então não teria sugerido colocá-lo de castigo.

    Entretanto Johnny falou-me sobre a minha vida. Questiono-me que parte da sua psicologia será verdadeira e como é que a minha vida vai mudar no Verão. É certo que se tudo correr bem vou com o Rasmus ver o Meu Sagrado Senhor à Suécia, e que se tudo correr ainda melhor o convenço a passear comigo por Estocolmo e me mostrar bares fixes, e que vou sozinha fazer esta viagem porque ninguém mais quer vir. É certo que poderá, eventualmente, haver Dominação do Mundo V 2.0. É certo que vou ver o Fogo da Arcada durante a época de exames. Talvez a minha vida mude realmente quando eu vir o Profeta pela segunda vez. Insinuaram que o Rasmus não é de confiança, o que é um dado adquirido porque não passa de um Finlandês que gasta 300 euros todas as noites a engatar gajas, mas mesmo assim quero encontrá-lo em Estocolmo para ter alguém que me ature depois do concerto, enquanto eu estiver a hiperventilar ou assim. Depois eu contei a história do labrador ao Johnny, e DJ apanhou-a no fim porque estava a falar com o Louis (que, por sinal, eu já não via há algum tempo).

    Depois Andrè e Cristina sairam do bar, porque estava a fechar e fizémos um esforço activo para pagar. Foi muito difícil pagar e Andrè tinha morrido.

    Voltámos a enfrentar os zombies no nosso caminho para as piscinas e voltámos a passar pela nossa casa que só se vê por dentro.

    Depois bebemos vodka e entrámos no plano em que Chico Norris estava amuado. Eu fui dar-lhe um abraço, mas ele falou individualmente com Johnny, Andrè e DJ, não necessariamente por esta ordem, e manifestou as suas razões. Isto foi intercalado com falar de carros e bolos e falar de carros outra vez. Falámos muito de carros e de como Chico Norris nunca mais ia conseguir vender ou trocar o seu carro porque ele se tinha tornado alcóolico. O vodka sabia bem e aquecia, porque estava a ficar frio e eu já tinha posto o meu casaco de lantejoulas douradas. Bebemos uma garrafa inteira, intercalando o desespero do Chico Norris com conversas de carros e com conversas que não me lembro de todo e que estão ausentes da minha mente. Dançámos ao som do carro da Cristina, mas era cansativo e o meu pulmão não aguenta. Acabei o maço de tabaco e passei a ter de cravar constantemente, coisa que eu odeio fazer e que evito activamente mas que não consigo parar de fazer quando necessito. Reparámos que estávamos os seis aventureiros que foram a Nárnia, mas que não estava lá a Sétima Pessoa.

    Depois decidimos que tinhamos de ir embora, ou então eu só poderia apanhar o barco das seis horas e quarenta minutos. Cristina desceu a rua a fazer uma espécie de rali e eu temi pela minha vida diversas vezes. Ela não costuma ser assim, mas esta noite estava assim. O mundo teria realmente acabado?

    Com estas questões, fui para casa. Tinha de acordar cedo no dia seguinte para levar os meus vestidos de baile à Jo para ela os experimentar.

    E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

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