quarta-feira, 2 de março de 2011

Aguentamos até às Cinco da Manhã em Almada


No dia dezanove de Fevereiro de dois mil e onze, pelas dez horas e meia, realizou-se em Almada uma reunião presidida por mim e com a presença de Andrè, Johnny, Dori, Chico Norris e DJ e com a seguinte ordem de trabalhos.

Uma noite louca e uma acta.

Primeiro tivemos de decidir onde iríamos nessa noite. Tudo se tornava negro e complicado para mim. Ir a Almada era plausível, mas e se no dia seguinte viessem a Lisboa? Aí não teria dinheiro. Além do mais, teria sempre que, necessariamente, voltar às duas da manhã, hora do último barco para Lisboa. Até que, salvador da pátria, Johnny afirmou “ficamos contigo até às cinco” e eu achei que a vontade de esticar a corda era suficiente para nos manter vivos até essa hora. Fui.

Comprei dois Don Simons para Johnny e um Don Simon para Chico Norris e uma garrafa de vinho branco para mim no Pingo Doce do Cais do Sodré e lá fui eu, carregada que nem uma mula Algarvia, no barco e rua acima até à estação do Metro de Superfície – também conhecido por “eléctrico” - Gil Vicente. Lá imaginei ser raptada e morta enquanto esperava por Andrè, mas ele chegou entretanto e passou ele a ser a mula Algarvia, porque se ofereceu logo para carregar os Don Simons. Subimos foi por um sítio diferente por onde eu nunca tinha subido.

Lá chegados encontrámos Chico Norris e falámos com ele sobre Dominação do Mundo. Referi que a Princesa Fifi poderia ir a Dominação do Mundo e o Chico Norris entrou um bocadinho em pânico, mas nada que não se resolvesse. Porque a Princesa Fifi não vai meter nada dentro da cabeça, e nós metemos coisas dentro da cabeça, excepto o Chico Norris cujas engrenagens se movem exclusivamente a força de carbohidratos. Por isso é uma situação mais ou menos complicado, mas eu tenho a certeza que, sendo necessário, a Princesa Fifi tem a capacidade de se adaptar à situação e de curtir da cena sem falar do Félix uma única vez.

Entretanto chegou o DJ e a seguir chegou a Dori. Comecei a comer um copo, só porque sim, comer copos é bom. Todos os cães comem copos, por isso eu também tenho o direito a comer copos. Mordi o copo até o desfazer, mas não o comi per se, porque parecia ter as pontas afiadas. Fui buscar outra cerveja e apareceu, vindo do vazio, Johnny. Corri para lhe dar um abraço, porque já não o via há pelo menos duas semanas e duas semanas, para nós, é muito muito tempo.

Conversámos um bocado sobre o Sporting e sobre futebol. Eu até sei que um fora de jogo envolve a linha de defesa e ter a bola nessa altura, porque apareceu tanto em Captain Tsubasa (conhecido em Portugal por Supercampeones) e em Whistle! Tanto que em Captain Tsubasa havia uma técnica chamada “A Gaiola do Falcão” em que os putos da equipa do Benji metiam a equipa do Oliver em fora de jogo e depois o Benji, que era o guarda-redes, mandava um riso maléfico super maléfico. Mas depois o Olivar marcava do meio campo e eles perdiam, por isso não servia de nada a estratégia. Mas basicamente falámos de como o Sporting se está a arrastar na lama. Eu tenho de ser do Sporting, ou o meu pai desfilha-me. Posso fazer tudo, menos não ser do Sporting. Eu não me importo, porque verde é uma cor bem gira e eles têm uma escola de talentos como nos desenhos animados e, por isso, dá para imaginar que aqueles jogadores também têm umas histórias giras por trás, incluindo mas não limitado a um caso com uma jogadora de Baseball que ensina a dar pontapés-dragão. Descobrimos também por esta altura que um dos apónimos do DJ é DJ Ervilha. (Sempre quis utilizar a palavra “apónimo”, é bem gira)

Eu entretanto tinha enviado mensagens a duas pessoas: à Shing, minha colega de convenções, e à Ivone, minha colega de faculdade. A Ivone telefonou de repente, a dizer para eu me manter onde estava. E depois apareceu. Levou-nos a um sítio que é um teatro, onde serviam bebidas baratas, e lá ficámos um bocado. Nesta altura ocorreram diversas revelações em relação à minha vida académica. Ela estava um pouco preocupada por não ter enviado os papéis da bolsa de estudos da UFAW ao nosso professor, mas eu disse-lhe para fingir que os tinha mandado e que não tinham respondido, que era o meu plano B caso não conseguisse ir aos correios a tempo. Então ela contou-me que precisou de cinco anos na faculdade para descobrir uma pessoa louca, que sou eu. Na realidade já tínhamos descoberto acerca uma da outra antes, numa festa do Avante, em que aparentemente eu corri para ela, abracei-a e gritei “IVONE ISTO SOU EU NA VIDA REAL”. Aparentemente eu digo isto frequentemente quando encontro pessoas fora do seu ambiente natural, mas não me lembro. Depois ela disse que havia mais pessoas malucas na faculdade, nomeadamente a TaSi, que eu já sabia porque fui sair com ela para o Bairro após Cantora Careca, a JoBe, que eu desconhecia totalmente nem nunca tinha imaginado, apesar de ela ter uma tatuagem, a Zaida, que eu até sei que está em contenção porque o pai a pôs de castigo para sempre, dois gajos que eu não sei bem quem são, o Spear, de quem eu tinha um bocado de receio porque era alto e ausente, e o Bushes, de quem eu tinha muito receio porque é todo dread, mas que uma vez eu vi no Bairro e abracei. Aparentemente ele encontrou a Ivone posteriormente e contou-lhe que tinha sido abraçado por mim, e que ficou muito traumatizado. É sempre bom traumatizar pessoas. Além disso, parece que o Spear tem um saco pequeno da Zara cheio de vegetais saborosos, por isso já sei a quem pedir quando a Holanda deixar de exportar. Neste bocado bebemos um licor de não sei o quê (Madragoa? Talvez. Era amarelado e sabia a menta) porque não havia mais moscatel. Ivone apresentou-me a um amigo que via Bleach e Naruto, apesar de eu não ver Bleach nem Naruto, e eu disse que Okinawatemomarmuitobonito para acharem que eu sei muitas coisas em Nihongo. Falámos com Andrè, que já me conhece há tantos anos, e ele explicou que eu fui a sua guia espiritual durante uma adolescência perdia, em que eu apenas fazia aquilo que continuo a fazer hoje, que é saber tudo sem saber nada, mas em que parecia muito mais realista. A Ivone disse que era minha fã, e que lê as actas, e por isso começaram a falar das minhas histórias. Isto foi um pouco constrangedor. Evidentemente que estava contente por haver quem lesse as minhas histórias, porque é sempre complicado arranjar pessoas que ainda leiam histórias, mas tenho obrigação de me sentir constrangida neste tipo de situação, porque é desagradável sentir-se agradado com os elogios que se lhe estão a fazer.

Entretanto voltou toda a gente, com uma litrosa, e partimos. A Ivone disse que estava em casa mas que não sabia o caminho, por isso não a segui mais. De uma forma ou de outra estávamos contentes por nos ter encontrado, num local tão longínquo. Andrè estava um bocado histérico em relação a ir dançar o Marilyn Manson, mas eu queria ficar com a Ivone porque é raro estar com ela nestas ocasiões e é raro poder falar de coisas da faculdade fora da faculdade, por isso fui-lhe berrando para ir indo e para me deixar sossegada, o que ele deveria ter feito imediatamente para aproveitar melhor a festa. Mas não o fez. Depois lá entrámos e dançámos, mas não identifiquei qualquer Manson. Entretanto passaram a música do pai da criança e fecharam. Por isso fomos para as piscinas, mas a Ivone perdeu-se pelo caminho e fomos sem ela.

Nas piscinas tínhamos Don Simon e vinho branco e umas pessoas com uma guitarra. Algures por aqui também apareceu o Jefferson. Estive a falar com ele sobre ter aulas na faculdade dele e sobre o facto de ele não ter de se defender tanto nas suas atitudes para com os outros seres humanos. Sei é que o Jefferson estava connosco e depois ficou com o casaco do Johnny. Andrè desistiu da vida, apesar de ter um xaile da Dori, depois de cantar um ou dois fados e foi para dentro do carro do Chico Norris dormir. Aconteceram várias coisas por aqui, cuja ordem não me recordo, mas que tentarei reproduzir sem ser por ordem:

-Tentei abraçar o meu reflexo;
- Fui acusada de ter a saia toda molhada, o que me fez grande confusão. Em que sítio teria estado sentada para ficar com a saia molhada? Nem sequer estava frio ou chuva ou humidade!
- Falámos da Andrea, de como está a fazer experiências mutantes e como um dia há-de voltar para nós tal como era. Apesar de eu de vez em quando ver a Andrea tal como ela era e sempre será, parece que muitas pessoas deixaram de a ver assim e têm saudades.
- Fui passear com Johnny.
- Vimos roupa a secar debaixo do túnel.
- As estradas eram claramente perpendiculares umas às outras.
- Ouvimos a música do Chico Norris, apesar de DJ estar sempre a insistir para mudar.
- Os meus cigarros acabaram, não devia ter dado nenhum ao Jefferson, se não tivesse dado não teria ficado sem cigarros.

E entretanto, não se sabe como, chegou o final da noite. Chico Norris e DJ desapareceram. Johnny sentiu-se mal, eu queria ir dar-lhe apoio moral mas tive de ficar a segurar o Jefferson para que não incomodasse. Dori ainda lá estava, mas depois desapareceu também. Fomos para os barcos, eram seis da manhã. Fui para casa com o estômago às voltas, ainda consegui mandar a Johnny uma mensagem mais ou menos legível e depois, em casa, morri. Fiquei o dia todo a dormir, com interrupções para almoçar e tomar banho. Foi difícil, porque o meu vizinho de cima tem uma pianola e passa a vida a tocar a pianola. Tanto que me dá vontade de ir ter com o Wibby, falar com ele e tocar-lhe de uma maneira super épica, para ver se o miúdo da pianola se cala com a pianola. Mas não o fiz e ele continuou a tocar, horas e horas, comigo a dormir por cima do som.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

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