terça-feira, 15 de março de 2011

Carnaval


No dia sete de Março de dois mil e onze, pelas dez, realizou-se em Bairro Alto uma reunião presidida por Zé Gato e com a presença de Chico Norris, Zé Gato, T., R., Celeste, Fabiano, McSousa, Andrea, o Carlinhos, Peru, Gamito e F. e com a seguinte ordem de trabalhos.


                Era segunda feira de Carnaval, e eu queria sair porque me apetecia mascarar. McSousa havia sugerido a brilhante ideia de me mascarar com recurso ao meu vestido Bávaro, por isso tinha profundos desejos de ir sair. No entanto ninguém queria ir sair, porque estava de chuva. Aliás, estava a chover torrencialmente em Almada e todos sabemos que o tempo em Almada é em tudo semelhante ao de Lisboa. Contactei Peru, que me disse que tinha planeada uma visita a certa discoteca em Alcântara, mas que disse para eu falar com o Zé Gato. Falei com o Zé Gato, que me disse que iriam para o Bairro Alto e depois para a festa no Night Bus, mas que ainda não sabiam as horas. Por isso acabei por convencer Chico Norris por volta das dez e meia até ao Cais do Sodré, sendo que depois telefonaríamos ao “pessoal” para os encontrarmos e nos encontrarmos a nós.

                Assim, fui a essa hora ter ao Cais do Sodré, sem antes me ter debatido com a minha improvisada máscara. A minha avó encontrou um avental de uma criada, que agora está guardado no meu armário juntamente com o saiote, e eu lembrei-me que tinha um chapéu tipicamente bávaro. Coisas bávaras são aquelas que vêm da Baviera, zona sul da Alemanha quase tão louca como o País Basco. Discuti com Chico Norris o seu casaco de cabedal, que já existe há cerca de seis a sete anos, as melhores máscaras que víramos em Carnavais passados (a melhor que alguma vez vi terá sido o grupo de gente mascarada de José Cid, tal como consta na foto com o disco de ouro, no mesmo Carnaval em Torres Vedras em que vi um palhaço a vomitar-se na relva), as melhores coisas para ver em Amesterdão e outras coisas mais. Entretanto vimos algumas pessoas mascaradas, mas não muitas porque estava efectivamente de chuva. Vimos duas criaturas vestidas de super-herói com estendais na cabeça e cintos que diziam SUPER-IRRITANTE. Vimos uma rapariga que me veio pedir um cigarro dizendo que estava mascaradas, mas não estava. Eu expliquei-lhe que o meu tabaco vinha mascarado de filme pornográfico dos anos setenta, que é tal como o Elixir é. Vimos um membro dos Kiss e um membro dos Guns’n’Roses. Entretanto chegou o “pessoal”.

                Zé Gato vinha de cara pintada de vermelho, dentro de uma caixa. Só percebi depois. Aliás, nem os reconheci à primeira vista. Fabiano vinha de robe e a máscara do Scream. Aparentemente dentro do seu armário a roupa que melhor ficava com a máscara do Scream era um robe verde. Muito me fez sofrer essa máscara durante toda a noite pois, quer estivesse virada para trás ou de lado, parecia que estava sempre a olhar para mim. R. vinha vestido de Árabe e Celeste vinha vestida de si própria. T. e F. vinham vestidos de médico, com batas e luvas e máscaras descartáveis. E toucas também. T. tinha uma bata de senhora, proveniente de sua mãe, por baixo. Por pouco se poderia pensar que tinha reduzidos seios. Gamito vinha vestido de Gamito, o que quer que seja um Gamito.

                Entrámos no Rua e lá ficámos. Ouvi T., F. e Chico Norris a falar de futebol. Eu continuo a ser do Sporting, por isso a conversa começa a aborrecer-me um pouco quando chega a esse ponto. Eu consigo acompanhar um jogo, mas não tenho qualquer interesse em saber os nomes dos jogadores, nem quais são comprados nem quais são vendidos, da mesma forma que não tenho qualquer interesse no chapéu da nova princesa de Inglaterra ou se aquela artista de banda desenhada se casou com um homem mais velho. Realmente são muito poucas as coisas que me interessam, e isto está passível de ser melhorado.

                Diga-se de passagem que enquanto estávamos na rua tinha começado a chover consideravelmente.

                Enfrentámos a chuva e fomos para o Boca do Inferno, onde anteriormente tinham feito descontos nas bebidas a pessoas mascaradas. No entanto isto tinha sido durante Samhain, onde as coisas são aparentemente levadas mais a sério, por isso não sei se lhes deram descontos ou não. Fomos para debaixo de umas obras, debaixo do meu guarda-chuva castanho com uma risquinha verde fosforescente, fumar. Falámos sobre filmes. Fabiano sabe realmente muito sobre filmes. Tive vontade de os interromper para dizer que os únicos realizadores que acompanho são o Miyazaki e o Makoto Shinkai, mas achei melhor não, porque estas coisas só perturbam a linha de pensamento dos outros. Vimos passar três raparigas vestidas de cerveja.

                Decidimos entretanto ir para a tal festa, após encontrar Peru. Eu tinha esperanças que fosse mesmo boa, já que estava a ficar desinspirada. Fumei cerca de quatro cigarros num espaço de dez minutos, com a falta de inspiração. Esperámos pelo Night Bus, anteriormente conhecido por Rede da Madrugada, mas ele nunca mais chegava. Eu tinha visto no site da Carris que seria o 201 e de repente, passada uma meia hora ou quarenta minutos ou mais, passou um 202. Fizeram-no parar para perguntar o que era feito do 201.

                “Deixou de existir há 15 dias”.

                Assim, após breve momento de consideração, decidimos partilhar um táxi até ao local. Apanhámos taxista Brasileiro e ainda tive oportunidade de o informar que era do Rio Grande do Sul. De certa forma os taxistas Brasileiros sentem-se mais desconfortáveis quando têm uma pessoa Brasileira presente. Recordei a noite em que um taxista Romeno se perdeu no caminho em Benfica às quatro da manhã e eu tive de lhe indicar a saída do labirinto completamente arruinada.

                Lá chegados descobrimos que o Peru e seus acompanhantes tinham ido parar ao Burger Ranch. Por isso esperámos em frente do local e depois desistimos, indo para o Burger Ranch. Assim que o vi deu-me uma fome enorme e vontade de comer um dos hambúrgueres triplos do Burger Ranch, daqueles de edição especial, cheio de molho e de triglicéridos. Mas, por causa da minha dieta contra o colesterol, decidi comer à mesma e optar por um menu para crianças. Ainda perguntei se podia, se estava autorizada, a comer o menu para crianças dado que, evidentemente, não sou uma criança. Disseram-me que sim. O jovem que estava a atender, talvez devido ao avançado da hora, não parecia ser muito brilhante, incapaz de fazer o troco de uma nota de 20 euros. Enquanto comíamos vimos um episódio de uma coisa sobre zombies, completamente idiota, porque raramente as coisas com zombies fazem qualquer sentido.

                Voltámos para a porta do local, após passar por uma infinidade de chungaria vestida de chunga e de prostituta e ficámos mais tempo parados à porta do local, enquanto que Peru vestia a bata descartável de T. para ter as bebidas pagas. Chico Norris e Gamito tentaram manejar as suas roupas e dizerem que eram o vocalista e guitarrista de uma banda Indie (sugeri o nome The Rangles), mas acabaram por não os aceitar e tiveram de pagar a entrada mais as bebidas. Lá dentro encontrámos McSousa e Andrea, vestidas à anos sessenta. Mas Andrea tinha uma peruca cor-de-rosa, e eu achei que estava muito mais Otome do que vintage. Surpreendi-me por também estar lá o Carlinhos, pintado de Zombie (outra vez algo sem muita lógica, está tudo conectado!) Troquei logo as fichinhas que, com dificuldade porque não acreditavam que estava mascarada (eu também não acreditava muito), me deram à entrada no momento de pagamento por um vodka com limão, mas de nada me valeu.

                A festa…

                A festa.

                Vazia.

                Música terrível. Aquela música que não dá para fazer nada, porque nem é nada. E eu nem sou uma pessoa com dificuldade em apreciar música. Mas não estava no espírito do pseudo-electro tropical. Queria dançar, mas o meu corpo não conseguia. Sentei-me, levantei-me, falei com o Carlinhos, falei com o Chico Norris. Explorei os balões de animais que havia no local, balões de plástico perfeitamente inofensivos. Fabriquei Holanda. Fumei Holanda com Chico Norris, contrariado por eu ter enrolado a mortalha por cima do filtro. Mas eu gosto de fazer isso, porque me sabe bem. Estava aborrecida. Estava profundamente aborrecida.

                Há muito tempo que não me sentia tão aborrecida.

                Por isso perguntei a Chico Norris onde eram os táxis, despedi-me de McSousa e Andrea e a última coisa que vi foi o Peru de camisa vermelha sentado com um ar neutro.

                Até aos táxis foram três minutos de perigo constante, dada a densidade mitrosa que me rodeava. Eram três da manhã.



                No dia seguinte fui fazer cosplay de Navegante de Júpiter ao anual Cosplay Photoshoot. McSousa e Andrea deveriam ir lá ter para, respectivamente, serem a Navegante de Lua e a fotógrafa. Princesa Fifi também. Esperei algum tempo, pois tinha tido boleia, convidaram-me para uma agência de modelos, pessoas aleatórias pediram-me fotos, Princesa Fifi chegou, fui buscar almoço, depois McSousa, Andrea e o Carlinhos chegaram e foram eles buscar almoço, depois o meu pai telefonou-me e fui à procura deles, depois tive de recusar uma foto porque estava à procura deles e sinto-me profundamente mal com isto, depois encontrei-os e a minha irmã mais baixa estava correctamente vestida de gato Luna, depois falei com a organização, já tinha falado com a Leo um bocado antes e já tinha visto a Shing, depois recebemos bolachinhas Chinesas da parte da Tsubaki porque íamos participar no concurso, depois fomos para a foto de grupo e tirámos a foto de grupo, depois fomos fazer uma photoshoot com os nossos guarda chuvas num sítio de onde se via o Pavilhão de Portugal e o Oceanário ao mesmo tempo, mais os teleféricos do outro lado, noutro sítio que tinha uns tubos com uma contra-luz interessante e ao pé dos vulcões, se bem que entretanto me atiraram com um balão de água e eu ainda hesitei antes de os mandar para o caralho, e depois pedi o telefone emprestado a Andrea para ligar à minha mãe e depois fui para Almada com todos eles, Carlinhos dentro do porta-malas. Chegaram a atirar-lhe uma bolachinha.

                Vimos imensas coisas interessantes.



                Fomos para o café em Almada ao lado do café do Ivo, e depois Andrè e Johnny foram lá ter. Apareceu o Wolverine. Decidimos que iríamos a um barzinho algures num estranho local e fui a casa de McSousa trocar para a roupa dela. Gostei de coordenar a roupa dela de uma maneira em que eu a usasse, conforme citado aqui, perdoe-se a sanita. Jantámos uma coisa boa em casa de Andrea, fomos para o bar. Libelinha, Chico Norris e Dori substituíam Andrè, que não estava lá. Tínhamos uma televisão com os melhores golos da semana a passarem por lá, por isso a conversa ficou limitada a isso e à ética na utilização de pau de Cabinda em segredo. Entornaram-nos cerveja em cima, partindo os copos todos, mas depois ofereceram-nas para dar conta do acidente.



                Dori deu-me boleia para casa, e ainda bem. Obrigada, Dori.

                 E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

Sem comentários:

Enviar um comentário