domingo, 6 de março de 2011

Dois dias de frustração


No dia quatro de Março e cinco de Março de de dois mil e onze, pelas oito horas e meia, realizou-se em Corroios, Bairro Alto e Almada duas reuniões presididas por Andrea e mais ninguém e com a presença de Andrè, Johnny, Chico Norris, Andrea, Wolverine, McSousa, Princesa Fifi, R. Celeste, Dori, Libelinha, Fabian e Peru entre outros e com a seguinte ordem de trabalhos.

Duas noites, uma com jantar em casa de Andrea seguida de Bairro Alto e uma ida a Almada seguidas de uma única acta.

Antes de mais passo a explicar o porquê da fusão das duas actas. Foi o Andrè que me disse para o fazer, porque tinham sido duas noites cheias de potencial que acabaram por não dar em nada. Comecemos pelo princípio.

Andrea convocou toda a gente, isto é, eu, McSousa, Princesa Fifi, Chico Norris, Libelinha e Johnny, para jantar em casa dela. Lá fomos, apetrechados com litros alcoólicos que só nos poderiam fazer bem. Jantámos lasanha vegetariana. Como eu tinha de tirar todos os cogumelos, porque havia o risco de comer algum e matá-lo – coitadinho – comi a minha lasanha por camadas, para grande frustração de Andrea que tinha concebido o alimento com tanto amor e carinho. O Carlinhos também lá estava a jantar ao meu lado, apesar de eu me ter esquecido dele quando pus os pratos na mesa. Libelinha não se estava a sentir bem nem feliz, por isso deitou-se. Antes eu já lhe tinha dado um abraço mas acho que não funcionou. Há quem diga que eu sou boa a abraçar pessoas, mas desta vez não funcionou, dado que o assunto era demasiado grave para ser resolvido através de abraços. Depois vimos filmes da caixinha do Johnny, incluindo mas não limitado a um filme de comédia sobre o Einstein, e depois chegou o Peru. O Peru chegou e comeu e iniciou-se um intenso debate em duas partes. Passava-se que Andrea queria ir para o Bairro, em Lisboa, que é do outro lado vendo da perspectiva oposta, e já nos tinha dito a mim, a McSousa e a Princesa Fifi que o desejava, pelo que vínhamos preparadas para isso. No entanto mais ninguém vinha preparado para isso e contemplavam uma house-party em casa de Andrea. Assim criou-se um debate enervante sobre como ficar a fazer uma house-party em casa da Andrea sem a Andrea em casa da Andrea. Era claramente impossível. A mim perguntavam-me a minha opinião, mas eu quero sempre estar onde toda a gente está, sem confusões e sem que fiquemos zangados uns com os outros. No fundo, é-me indiferente onde estou desde que esteja tudo em paz e com companhia. Evidentemente que Andrea seguiu os seus planos iniciais, pelo que houve uma separação grupal e, assim, seguimos para Lisboa eu, o Peru, a Andrea, a McSousa e a Princesa Fifi, todos acumulados no carro do Chico Norris, carro esse que tem alguma vocação para carro de palhaços, dado que coubemos lá todos confortavelmente.

No barco é de demarcar que eu fiz um eye-twitch à Princesa Fifi, mas não foi propositado, é um tique novo que eu ganhei e que é soberbamente irritante tanto para mim como para os outros, dado que faz confusão e me fica a doer a cara na zona twitchada.

Chegados ao Cais do Sodré corremos em busca do banheiro encantado. Viemos a descobrir um, todo emporcalhado como deve ser, mas Andrea não quis vir connosco e disse que ia ao Irish Pub. Fui comprar tabaco e procurei-a no Irish Pub, mas ela não estava lá. Já tinha seguido para o Indie Rock, onde fomos ter. Lá em cima estava uma multitude de gente, incluindo mas não limitado a R., Celeste, Zé Gato, Wolverine, T. e Fabiano. Ficámos lá a beber os Don Simons que tínhamos. Depois fizemos requerimento a Fabiano para fazer o tratamento básico dos produtos da horticultura Holandesa e ele pareceu apreciar. Esta nova colheita é mais leve, com um sabor mais agradável, que enrola bem no palato e faz sentir uma certa leveza de espírito.

Princesa Fifi estava bastante como a conhecíamos.

De repente decidiu-se que todos se iam embora no barco das duas e meia e descemos. Eu fiquei do outro lado da rua, porque tinha de levantar dinheiro. Ninguém se despediu de mim. Tive de gritar para o outro lado da rua para a Andrea e a Princesa Fifi saberem que eu me ia embora, mas mal me disseram adeus. Fiquei mais ou menos triste, mas enfim, não há-de ter sido por mal. Não sou pessoa de ficar profundamente ofendida por falta de cumprimentos, mas preocupa-me pensarem que não os fiz de propósito.

No táxi pensei. Eu não costumo pensar em nada quando ando de táxi, só acerca do taxista, que pode ser um assassino, ou que é regularmente um mau condutor, ou que me pode raptar e entregar aos hotentotes. Desta vez fui a pensar nos filhos da Cheri e de qual deles gostava mais. O Wolfram pode ser loiro e ter olhos verdes, mas irrita-me ser tão infantil. O Konrad pode ser perfeito em todos os aspectos, mas há algo nele que não me atrai. Deve ser a este tipo de coisa que se chama “medíocre”. Por isso cheguei à conclusão que o meu preferido é o Gwendal, porque é o mais velho e escorre maturidade pelos poros todos e tem, associado a isso, aquele lado fofo e amoroso de fazer bolachinhas em forma de animais e fazer peluches em tricô. Além disso tem olheiras, o que é significado de passar longas noites a fazer sabe-se lá o quê, a ler, a assinar documentos, a admirar longos cabelos, a fumar ganzas ou a fazer festas a gatinhos.

No dia seguinte acordei tarde. Acabei de fazer o fato de Carnaval da minha irmã pequena. Ela na realidade já foi mascarada, de Hannah Montana, mas aceitou mascarar-se comigo no próprio dia de Carnaval, para a Photoshoot que há todos os anos. Depois fui ao Ennichi, uma feira de rua Japonesa nos restauradores, onde encontrei montes de pessoas. Entre essas pessoas vi a famigerada Rapariga-que-fugiu-de-casa, que nos substituiu por roupas lolita, que podem custar os olhos da cara mas não têm nem cara nem olhos. Foi um evento complicado porque ela estava lá, porque era um espaço super pequeno em que eu tinha de estar sempre a evitá-la. Felizmente o meu casaco cobria o meu tutu cor-de-rosa, por isso indícios de que eu era eu não havia muitos e, possivelmente, ela não me viu até ao fatídico momento. O fatídico momento foi quando, depois de eu contar a história toda, アナ・さん, seguida pelo pobre Poeta que vinha com ela, decidiu ir intervir. Na realidade ela queria uma foto com a Rapariga-que-fugiu-de-casa porque tinham um vestido da Bodyline igual, coisa que uma verdadeira lolita nunca teria, mas que interessa isso, mas escusava de se ter envolvido nesta bicuda situação. A Rapariga-que-fugiu-de-casa aparentemente fez-lhe uma citação integral do e-mail que nos mandou alguns meses após seu desaparecimento, em que nós somos feias e más, cabras frias e insensíveis que a abandonámos e não lhe demos dinheiro para investir no seu Jewelry Jelly. Coisa verdadeiramente trágica. Quando vi a situação decidi mudar os meus planos (ficar até às oito à espera do meu pai e da minha irmã pequena, possivelmente com Andrè se o conseguisse convencer a vir para este lado acabar de as fumar) e ir-me logo embora. Oiço então um clamor que chamava por mim “Ó LADY” e parei. アナ・さんveio, comovida, contar a “outra versão da história” e eu, indiferente à situação ou quiçá um pouco aborrecida, disse-lhe para informar a Rapariga-que-fugiu-de-casa que nós as quatro tínhamos ficado muito magoadas com ela e não estávamos para aturar infantilidades. Mas para ela omitir a parte das infantilidades, e dizer só que tínhamos ficado muito magoadas com ela. Espero que agora seja muito amiga dos seus vestidos e que eles lhe proporcionem lindos momentos de amizade. Liguei de imediato a McSousa a dar conta do ocorrido e massagei a Princesa Fifi. Ambas ficaram revoltadas com a mentira e hipocrisia. Não disse nada a Andrea, para não estar a desviá-la para uma conversa gossipeira que não interessa a ninguém.

Depois do jantar, pouco depois do jantar, o meu pai apareceu em minha casa para apanhar o fato da minha irmã pequena. Pedi-lhe que me levasse ao Cais do Sodré, para poder ir para Almada e ele decidiu levar-me a Almada. Assim, cheguei lá muito antes de qualquer hora útil. Esperámos uns quarenta e cinco minutos no Café Central até que Dori apareceu para me salvar dos cuidados parentais. O meu pai não me queria deixar continuar a subir a rua sem ninguém comigo. Até lá, falei à minha irmã pequena dos filmes do Miyazaki, mas ela não pareceu excitada com nenhum, e expliquei-lhe assim por alto a história do Sonho de Uma Noite de Verão. Percebi nesse momento que a história da peça é bastante complicada, apesar de ser simples. Fomos para o carro da Dori e descobrimos que Andrè não queria boleia para cima, por isso fomos sem ele. Chovia torrencialmente. Chegámos às piscinas e continuava a chover torrencialmente. Fomos para debaixo de uma varanda e chovia torrencialmente. Depois chegou Chico Norris e um amigo dele e passado um bocado parou de chover. Entretanto chegou Andrè, aterrorizado, pois tinha sido abordado por um brasileiro baixo e gordo de avental, com a cara cheia de sangue e um facalhão na mão. Telefonei ao meu pai para confirmar que não tinham sido atacados pelo psicopata. Não tinham.

Depois fomos ver se o teatro estava aberto e ao voltar ficámos no murete a fazer nada. Entretanto gerou-se intensa problemática sobre o meu destino. Eu teria de voltar às duas da manhã, mas não apetecia a ninguém – excepto talvez Dori – e não havia outra solução para nós. Sugeri e insisti muito que viéssemos para minha casa, pois não estava lá ninguém e tinha imensa comida. Tentei convence-los durante muito tempo, aliciando-os com o dvd do YFC! do Gackt, mas ninguém foi aliciado e, a pouco e pouco, as desculpas iam ficando cada vez mais consistentes.

No entanto ainda debatemos que poderíamos fazer uma associação, como trabalho extra, de tripsitters, isto é, pessoas que tomam conta da tua trip. Depois faríamos workshops para os freaks que viessem a pertencer à nossa associação. Por exemplo “tema do mês: a Bad Trip”. Andrè andou de carrocel um bocado. Entretanto chegámos à conclusão que a culpa era toda do Johnny. Ainda pensámos em mandar todos uma mensagem a dizer “a culpa é tua”, mas chegámos a conclusão que isso só o faria pensar que é importante e não mandámos. Mas o Johnny é importante, somos todos importantes, devíamos ter mandado à mesma só para dizer que nos lembrámos dele.

Depois descemos para Cacilhas, e eu pensei que estava num táxi.

No barco decidi ligar a música. Houve dois momentos importantes nisto. Um foi com a Mystline dos Nujabes e o outro foi com o Coisas dos Ornatos Violeta. Neste, vi o homem que tinha perdido a coisa que mais amava no mundo, continuando com a sua vida mas permanentemente só, imensamente só, só no meio de um deserto, rodeado de gente mas ainda assim a pessoa mais sozinha do mundo. Quanto à Mystline, vi a deusa da morte no meio do nevoeiro, a dançar com um leque. Que o leitor feche os olhos e imagine, ao som desta música, a deusa da morte com o seu kimono cor-de-rosa, a acender velas, uma por cada sentimento do homem, e depois a apagá-las, porque quando se morre os sentimentos também lá ficam. E depois é a dança da purificação, mas a dança não é séria. A dança é uma brincadeira, em que se mostra o pescoço e se metem os joelhos no chão. E depois a luz, a alma, parte no barco, com a sua deusa e com o seu remo. E é este um dos meus sonhos de apresentação, que um dia eu hei-de fazer quando for boa a fazer o que quer que seja, talvez em França ou Inglaterra, ou num sítio qualquer onde me deixem brincar com cinco minutos de música.



Quando cheguei a casa, comi uma lasanha, o resto do empadão e um petit gateau. Depois falei com o Deviante, que estava todo bêbado. No dia anterior tinha falado com o Jinxo, mas ele não pareceu muito feliz por estar a falar comigo de mente afectada.

E o dia seguinte é hoje, estive em casa de McSousa para apanhar as coisas do nosso cosplay e vimos o Glee e eu não lhe achei graça nenhuma.

E, nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, a Amiga Imaginária, na qualidade de secretária, que a redigi.

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